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Fraport desrespeita nossa História ao apagar o nome de Pinto Martins da fachada do aeroporto

O hidroavião de Pinto Martins, que saiu de Nova Iorque ao Rio de Janeiro entre 1922 e 1923.

Por Fábio Campos
fabiocampos@focus.jor.br
A retirada do nome de Pinto Martins do aeroporto de Fortaleza (Fortaleza Airport) gerou polêmica que vem ganhando forte dimensão na Capital do Ceará. O terminal é 100% administrado pela concessionária Fraport, de origem alemã. Na visão do Focus, trata-se de uma decisão desnecessária da empresa, embora não haja nenhum problema no batismo Fortaleza Airport para fins comerciais.
A Fraport foi (e é) muito bem-vinda ao Ceará. Sua chegada profissionalizou a gestão do equipamento essencial ao desenvolvimento econômico do Estado. Os novos investimentos, de responsabilidade privada, e a forma de gerir, deram ao aeroporto a qualidade internacional que criou as condições objetivas para transformar o aeroporto de Fortaleza em um centro de voos nacionais e internacionais. O esperado sucesso do acordo Mercosul-União Europeia vai encontrar um equipamento de alto nível para receber e exportar mais e mais visitantes e cargas.
No entanto, a Fraport precisa entender e se adaptar à uma parte da cultura e tradição locais que em nada afeta o seu desempenho e o seu negócio em Fortaleza. O nosso aeroporto é um dos poucos do País que homenageia uma referência da aviação mundial. Portanto, trata-se de um batismo que tem forte relação com os fins do aeroporto e da aviação. Uma rara exceção entre tantos aeroportos batizados com nomes de políticos, tanto no Brasil, quanto no mundo.
São estes os casos do aeroporto John Fitzgerald Kennedy, em Nova Iorque; Charles de Gaulle, em Paris; Indira Ghandi, em Nova Deli. No Brasil, temos Juscelino Kubtscheck, em Brasília; Luis Eduardo Magalhães, em Salvador; Freitas Nobre, em São Paulo (Congonhas) e tantos outros. Todos eles mantiveram seus batismos nas fachadas, como é o caso do aeroporto Salgado Filho, de Lisboa. Trata-se de uma atitude respeitosa, principalmente para estrangeiros que exploram negócios em terras alheias.
Leia a História, digna de roteiro de filme, que precisa ser contada aos alemães da Fraport.
Euclydes Pinto Martins nasceu em Camocim , no litoral norte do Ceará, em 15 de abril de 1892. Aos 17 anos, foi para os Estados Unidos, onde se formou em Engenharia Mecânica e estagiou na “Baldwin Locomotive”, uma fábrica de vagões. Na década de 1920, Pinto Martins se interessou pela aeronáutica. Em 1921, conseguiu o “brevet” de piloto. Em  parceria com o norte-americano Walter Hilton, planejou a travessia do continente americano (de norte a sul) em um hidroavião, um grande, pioneiro e importante feito para a época.
Após seguidos fracassos, um “raide” mais organizado iniciou uma viagem de Nova Iorque ao Rio de Janeiro, que começou em novembro de 1922 e terminou em fevereiro de 1923. Foram  5.678 km de percurso, com incríveis 100 horas de voo, numa viagem repleta de paradas e perigos que incluíram pousos em rios da Amazônia, em áreas onde homens brancos jamais haviam chegado. Detalhe: uma das paradas foi Camocim, a terra natal de Martins.
Na chegada ao Rio, Pinto Martins foi recepcionado pelo Presidente Artur Bernardes e recebeu um prêmio de 200 contos de réis por seu feito histórico. Viajou à Europa e, meses depois, voltou ao Rio de Janeiro com o plano de iniciar as negociações para explorar petróleo, sendo o pioneiro no Brasil nesse ramo. Pinto Martins morreu em 1924, em circunstâncias brutais jamais elucidadas.
O batismo de Pinto Martins para o aeroporto de Fortaleza não é uma invenção local. O ato foi do então presidente Café Filho, com base em lei aprovada pelo Congresso Nacional. Fosse nos Estados Unidos ou na Alemanha, Pinto Martins estaria na galeria dos heróis nacionais.
 
 
 

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