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Querem comprar minha empresa. E agora? Por Henrique Lyra Maia (Parte 3)

Henrique Lyra Maia, Bacharel em Administração de Empresas, Especialização em Administração Financeira e Mestrado em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza, Especialização em Gestão Empresarial pela FGV e Doutorando em Contabilidade e Finanças pela FUCAPE Business School. Sócio da LYRA&MAIA Consultores Associados.

Esse artigo será o último da série de três, que o leitor pode ter acesso do primeiro AQUI e do segundo AQUI . Nos dois primeiros, foi comentado a respeito de como a atratividade dos negócios e a confiabilidade das informações e processos da empresa contribui para que uma transação de compra e venda de participações aconteça. Para finalizar a série, o presente artigo explorará como a governança pode criar um ambiente que facilite esse processo.

As questões relacionadas a governança são muito amplas e caberia um elenco relativamente grande de itens que uma empresa deveria ter para que possa ser classificada como uma empresa de boa governança. Para tornar o artigo mais objetivo, será explorado apenas os itens chaves que podem ser impeditivos para a realização de uma transação e que devem ser sanadas pela empresa.

Um risco muito importante que o investidor procura mapear em uma empresa é a dependência dela para com o fundador. Muitas não conseguiram formar um time que possibilite a empresa gerar resultados mesmo na ausência do proprietário. Em geral, quanto menor for a empresa, maior tenderá a ser esse risco, mas é comum encontrar empresas com portes relevantes e altamente dependente do sócio fundador. O investidor colocará no seu balanço os riscos a possibilidade de o proprietário falecer, ter um problema de saúde ou sofrer um acidente grave.  Se a empresa funcionar apenas com o fundador presente, isso representa um grande risco para a empresa, portanto, para quem irá investir.

Além disso, o mercado também verifica o histórico do empreendedor e a imagem que ele possui perante a comunidade que ele está inserido. Investidores querem se relacionar com pessoas que possuem o que chamamos de goowill, ou seja, uma imagem positiva do mercado perante seu histórico como empresário.

Ainda sobre a governança, é importante identificar se o modelo de negócio da empresa embute um modus operandi que seja livre ou que no mínimo esteja endereçando formalmente as eventuais contingências fiscais, trabalhistas, ambientais ou de segurança. É comum encontrar segmentos que possuem muita informalidade, mesmo que em alguns casos não seja “culpa” da empresa. Nenhuma empresa é livre desses tipos de passivos, no entanto, se esses problemas estiverem embutidos na forma como a empresa faz negócios, será um fator inibidor das transações com investidores. As empresas devem promover mudanças no modelo de negócio de modo que as normas e regulamentos exigidos pelos órgãos fiscalizadores estejam dentro dos padrões.

Por fim, há de se ressaltar que investidores em geral querem adquirir o modelo de negócio da empresa e não nos seus ativos físicos. Muitas empresas fizeram sua expansão adquirindo terrenos e imóveis próprios, fazendo com que o empreendedor queira colocar um preço maior pelo seu negócio devido aos ativos físicos. Outros, ficam reticentes em avançar na venda do negócio porque contém terrenos que são ou serão muito valiosos no futuro, criando uma barreira para a venda.

Para boa parte dos casos, a recomendação é retirar os terrenos e imóveis da propriedade da empresa e alocar em uma outra empresa que seria responsável por alugar esses ativos. Além de obter os rendimentos na forma de aluguel e da valorização do imóvel ao longo do tempo, os sócios conseguiriam eliminar um problema para a negociação com os investidores.

Para resumir essa série de artigos, as empresas que possuem boas perspectivas de crescimento e retornos, números contábeis confiáveis e uma boa governança, tem muito mais chances de serem transacionadas. Esses critérios não são binários, ou seja, no sentido de “ter ou não ter”, mas muito mais em questão de grau.

Por exemplo, uma empresa pode ter margens baixas, mas cresce a taxas de 20% a 30% ao ano. O crescimento exponencial pode compensar margens menores. Essa mesma empresa pode ter disparidades entre seu gerencial e contábil, porém seu balanço de riscos fiscais e trabalhistas não representam um problema. Enfim, cada empresa terá sua própria situação específica e deverá refletir sobre quais melhorias pode fazer para estar cada vez mais adequada para uma eventual transação.

Pode até parecer que não, mas incrivelmente não falta dinheiro no mercado financeiro, o que falta são bons negócios e que estejam preparados para serem transacionados. Muitos empresários não preparam a empresa para ser comprada porque simplesmente não passam pela cabeça deles um dia fazer isso.

Espero que esse artigo contribua para que empresários possam dar os primeiros passos para preparar suas empresas para receber um aporte de investidores externos. Embora os itens sejam de fácil compreensão, implementá-los pode não ser uma tarefa tão simples assim.

Para os empresários que desejam trilhar esse caminho, desejo boa sorte.

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