Pesquisar
Pesquisar
Close this search box.

Chat GPT: um forte concorrente ou seu novo amigo de infância? Por Pádua Sampaio

Inteligência Artificial – AI: O desconhecido sempre preocupa, mas não há motivo para desespero (ainda)”. Será um caso e amor com a humanidade?

Por Pádua Sampaio*
Articulista do Focus

Confesso que nunca entendi bem aquela parte da música “O Portão”, do Rei Roberto: “meu cachorro me sorriu latindo”, mas o que interessa aqui é o refrão: eu voltei. Voltei com muita satisfação a contribuir para o Focus às quintas-feiras.

Obrigado, ao Fábio, editor do Focus, pelas palavras de incentivo para seguir escrevendo. O interessante e paradoxal é que o tema de retorno faz jus exatamente à escrita e outras atividades intelectuais já emuladas por inteligência artificial como o Chat GPT. Ou seja, vamos falar deste duelo inédito entre seres humanos que temem pela extinção dos seus empregos e o avanço das máquinas.

Opa, “inédito”? Será?

Sempre pensei que há um pouco de presunção de nossa parte ao acreditar que estamos vivendo o ápice da humanidade, algo jamais visto ou enfrentado. Disruptivo que chama, né? Convém considerar que o Império Romano, em seu auge, também via o mundo dessa forma. Os iluministas, pré e pós Revolução Francesa idem. E vamos combinar: você também achou que aquela realidade do desenho “Os Jetsons” era fantasiosa demais para um dia se tornar verdade.

Parece-me mais atraente pensar na História como ciclos que se repetem, cada momento à sua maneira. Para alguns, em um movimento espiral ascendente. Para os que enxergam o copo meio vazio, descendente. Sem divagar muito, ambas acarretam em mudança – já em andamento, ressalte-se – nas formas e ofertas de trabalho a partir do uso de IAs que põem em xeque diversas profissões. Quando
houve isso antes?

Lá pela Idade Média, as Corporações de Ofício reuniam artesãos com habilidades em comum para a produção das mais diversas mercadorias: bolsas, sapatos, utensílios domésticos, vestimentas etc. A organização do comércio, bem como a capacidade de oferta, girava em torno da técnica e do tempo de fabricação desses produtos.

O surgimento das indústrias e de suas máquinas – primeiramente movidas a vapor, depois evoluindo para combustão e em seguida para a eletricidade – mudou completamente essa dinâmica. Com a produção em série e consequente aumento da oferta de bens de consumo, ganhamos velocidade, escala e novos mercados.

A Revolução Industrial impactou diretamente artesãos com habilidades manuais específicas. Já a Revolução Digital, capitaneada pela inteligência artificial generativa – ou seja, capaz de aprender e evoluir sozinha – repete este movimento, mas dessa vez atingindo em cheio atividades que possuem em seu core a aplicação de capital intelectual. A saber: departamentos de marketing, agências de publicidade, escritórios de advocacia, de arquitetura, redações de jornais, programadores, compositores, escritores, produtores de conteúdo e por aí vai.

Em geral, profissões que, em um cenário pré-pandemia, se viam protegidas pela incapacidade de máquinas se comportarem como humanos. Mas parece que o jogo virou, com a proliferação de super processadores que emulam o pensamento humano, conferindo mais velocidade, escala e novos mercados, alterando a dinâmica do mundo. Já viu esse filme?

Exato, o mesmo fenômeno de séculos atrás, mas com outro alvo. Em um artigo para a Harvard Business Review, chamado “Chat GPT is a tipping point for AI” (“Chat GPT é um ponto de inflexão para a IA”), Ethan Moloick, professor da Universidade da Pensilvânia, também defende que as habilidades desse sistema modificam substancialmente atividades que envolvem a produção intelectual, mas
aponta para uma luz no fim do túnel.

Certamente haverá substituições de habilidades bem como co-participação cada vez maior dessas inteligências, Ethan defende. O programador não precisará mais escrever códigos sozinho; o analista terá uma curadoria artificial dos dados; advogados ganharão um reforço na elaboração de peças; em vez de Roberto e Erasmo, teremos homem e máquina compondo hits (uma grande perda, neste
caso).

O ponto é que muitas funções e profissões desaparecerão, mas várias outras também surgirão. Puxando a brasa para a nossa sardinha, sem Revolução Industrial não haveria departamento de marketing, agências de propaganda e tantas outras áreas e funções que há hoje nas companhias. Que artesão da Corporação de Ofício conseguiria pensar que apareceriam cargos como gerente comercial, técnico de TI,
suprimentos, jurídico, etc, etc?

O desconhecido sempre preocupa, mas não há motivo para desespero (ainda). Há de se buscar entender, isso sim, quais as novas habilidades que irão para a primeira prateleira e o que dará origem a novas profissões em áreas do saber ainda inexploradas. Essa é a pergunta de milhões.

É claro que eu tentei fazer esse questionamento para o Chat GPT, que também titubeou. Por ora, vamos ficar atentos e aguardar as cenas dos próximos capítulos. Ou as próximas atualizações da ferramenta.

*Pádua Sampaio é publicitário, empresário, professor e colaborador do Focus.jor, no qual assina artigo às quintas-feiras.

Mais notícias