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Discurso de ode. Ode à criatividade e à inovação; Por Pádua Sampaio

Louis era filho de um artesão francês do século XIX que trabalhava com couro. Não era raro que os equipamentos do pai se misturassem a brinquedos e outros objetos que ficavam pela casa. Casa que se confundia com a oficina e vice-versa. Em um momento de descuido no ateliê, Louis feriu o próprio olho com uma ferramenta pontiaguda e ficou parcialmente cego. Logo em seguida, uma infecção decorrente do primeiro acidente tirou-lhe a visão por completo ainda aos 3 anos.

Embora incomum na época, Louis não só frequentou a escola como era um aluno brilhante. Tanto que, com apenas quinze anos, ele revolucionou o método de leitura para deficientes visuais, até então bastante precário e rudimentar.

Para isso, se inspirou em uma técnica militar de comunicação baseada em pequenos pontos em alto relevo. Quanta distração a minha: esqueci de dizer que o sobrenome desse garoto era Braile. Louis Braile.

Você já deve ter escutado em algum momento que a necessidade é a mãe da invenção, frase inclusive atribuída a Platão. Diria eu que invenção é irmã gêmea da criatividade. Do ponto de vista do marketing e principalmente da comunicação, a mamãe necessidade nunca foi tão presente, e a explicação é antes de mais nada matemática.

Até onde se sabe, o planeta Terra vai continuar demorando apenas 23h e 56 minutos para dar uma volta no próprio eixo, a menos que o STF mude o seu entendimento sobre esse assunto. São cerca de 24 horas que se repetem na vida do cidadão médio, das quais oito são gastas sobre o colchão e oito são dedicadas ao trabalho.

Em tese, sobram oito horas diárias para atividades cotidianas e para as marcas disputarem os olhos, os ouvidos e a preferência do consumidor. É pouquíssimo tempo, convenhamos.

A tecnologia democratizou o acesso a ferramentas que, ao contrário do ferro pontiagudo que machucou Louis, às vezes se mostram inofensivas. A paridade de armas e novas distrações como as redes sociais tornam a concorrência ainda mais acirrada.

Já não são marcas disputando com marcas no intervalo da novela das 8, mas marcas disputando entre si e com as dancinhas, vídeos engraçados, intrigas políticas, o erro do VAR etc. Tudo no mesmo espaço.

Você pergunta: “E como fazer para que o meu consumidor preste atenção em mim?” Não existe resposta categórica, mas certamente tem a ver mais com o “Como” do que com o “O quê”. Tem mais a ver com o cartão que você escreve do que com o buquê que você comprou. Tem a ver com criatividade.

Inebriados pela tecnologia, métricas, dashboards e seus gráficos coloridos e dinâmicos, temos esquecido o básico: a mensagem. Aquilo que está chegando ao consumidor realmente importa na vida dele? Mais até: se sobressai em meio à avalanche de conteúdo gerado diariamente?

Voltando ao planeta azul: a sua marca ou produto está espremido em pouco mais de oito horas, entre milhares de outras opções em várias telas, aplicativos, redes sociais que se multiplicam como coelhos, painéis de led, streamings etc. Além, claro, da própria vida cotidiana com seus prazeres e obrigações. Ser criativo, diante disso tudo, é primordial.

Não dá pra chutar de qualquer jeito nas raras oportunidades em que a zaga cochila e você se vê frente a frente com o goleiro. Não dá pra simplesmente dizer que a sua marca tem qualidade e tradição. O cliente espera muito mais do que isso. A atenção é uma moeda cara; o mínimo que ele deseja é trocar esse momento por algo que valha a pena.

Sim, é verdade, houve uma época que bastava anunciar “matrículas abertas” ou “30, 60, 90” ou “É só até sábado” e o telefone fixo verde abacate não parava de tocar. Mas o jogo mudou. Nunca nos comunicamos tanto entre nós mesmos; jamais recebemos tanta informação nova e tivemos acesso a tantas possibilidades. Por outro lado, nunca vimos as pessoas tão indiferentes às mensagens. Ei, psiu: você ainda está aí?

Talvez o rigor dos trinta segundos na TV e rádio impusesse uma qualidade criativa daquilo que, lançado ao público e à própria sorte, já não voltaria mais. A era da abundância, por sua vez, permite fazer, refazer, testar, publicar e deletar com facilidade e rapidez absurdas. Permitiria também ousar mais.

Já que existem todas essas possibilidades, não há motivos para delegar exclusivamente à tecnologia algo que ainda é essencialmente humano, despertar interesse, atenção; inovar, fazer diferente. Invista tempo naquilo que vai ser dito. É muito mais proveitoso e inteligente queimar fosfato do que queimar recursos da sua suada verba de marketing.

Este olhar deve ser diário. Diário e desapaixonado. Pergunte-se sempre: o que estou comunicando importa para quem está do outro lado? Este exercício precisa ser igual a banho. Se você tomou dois, três hoje, ótimo, excelente. Mas as próximas 23h e 56 minutos serão outra história.

Três perguntas para mexer com o seu juízo:

1) Que tipo de comunicação entrego para o consumidor em troca da atenção dele?
2) Que peso tem a tecnologia/meios e a mensagem no processo de comunicação e marketing do meu negócio?
3) De que forma procuro inovar no que comunico para ser percebido, lembrado e escolhido?
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