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O emprego e a renda dos vários brasis; Por Igor Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor de Ciências Econômicas e analista de Relações Internacionais. Foto: Divulgação

Na última semana recebemos uma boa notícia ao observarmos o nível de desemprego do Brasil ao final do ano passado. Segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, o quarto trimestre de 2022 encerrou com uma taxa de 7,9%, sendo o menor percentual desde 2015. Essa é de fato uma boa notíciatendo em vista que algo próximo de 6% já pode serconsiderado como pleno emprego do ponto de vista de nações emergentes, em especial o Brasil.

Mesmo que estivéssemos pleno emprego, todos os problemas da nação não estariam resolvidos. Infelizmente o Brasil ainda tem uma renda média muito baixa, principalmente quando comparada com a de paísesvizinhos. Hoje o salário mínimo do Brasil é cerca de USD 250,00, enquanto o do Uruguai é de USD 540,00; oParaguai tem salário mínimo de USD 349,00 segundo dados da Bloomberg Línea. Neste contexto, é importante ressaltar que a renda da população e o nível de desemprego muitas vezes estão desassociados e existeuma clara visão de que as políticas públicas que realmente são efetivas são aquelas que focam essas duas vertentes conjuntamente.

Dito isso, é importante esclarecer que a taxa de 7,9% não é uma taxa homogênea em todo nosso país… Longe disso!Existe uma notória diferença entre todos os Estados brasileiros quando falamos sobre o nível de desemprego e renda média, indicadores fundamentais para análise damelhora na qualidade de vida, na diminuição da desigualdade e no desenvolvimento econômico sustentável.

Com tal visão, o gráfico abaixo demonstra um cruzamento de dados do IBGE, onde é possível analisar a renda média dos Estados brasileiros e o nível de desemprego de cada um deles ao final de 2022, isso levando em consideração o fim da pandemia, a guerra na Ucrânia e seus movimentos inflacionários.

Portanto, pode-se considerar assombroso e quase trágico o que encontramos. Conseguimos criar 4 quadrantes que possuem visões muito claras sobre o desenvolvimento e arenda dos Estados da federação.

Nas piores posições, ou Losers, estão os Estados no quadrante superior esquerdo: Bahia, Amapá, Pernambuco, Sergipe, Paraíba, Acre, Rio Grande do Norte, Piauí, Alagoas, Amazonas, Pará e Maranhão. Esses Estados apresentaram ao final do ano as menores rendas médias, todas abaixo de R$ 1500,00 e com expressivos índices de desemprego, todos superiores a 8%. O mais delicado é queinfelizmente alguns com 2 dígitos, como, por exemplo, o estado da Bahia com 13,5%.

O Rio de Janeiro e o Distrito Federal, estados Top-Down,únicos Estados no quadrante superior direito, apresentam uma considerável renda média entre R$ 2.000,00 e R$ 3.000,00; todavia, continuam com elevadas taxas de desemprego acima dos 10%. Esses 2 Estados ocupam um lugar especial nessa análise, pois apresentamcaracterísticas de renda diferenciadas e relacionadas àcadeia produtiva de óleo e gás, e do Serviço Público Federal. Por outro lado, o alto nível de desemprego denotaque há um baixo dinamismo econômico no momento.

No quadrante inferior esquerdo temos os estados Botton-Up, Ceará, Tocantins, Rondônia e Roraima. Esses Estados possuem taxas de desemprego abaixo de 6%, o que pode ser considerado próximos do pleno emprego, e mostra-se melhor do que a média nacional; entretanto, eles possuem renda média abaixo dos R$ 1.500,00, mostrando que,apesar de o mercado de trabalho estar aquecido, não há muito espaço para empregos com altos salários, o que na prática pode ser fruto de baixa produtividade ou de mercados limitados na região. Vale ressaltar que os auxílios governamentais podem mascarar o real número de desempregados.

O quadrante mais interessante, que podemos chamar de Winners, vem com Estados do canto inferior direito do gráfico. Nele, encontram-se o Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. O que une todos esses Estados é um alto valor de renda média, acima dos R$ 1.500,00, e um baixo nível de desemprego, abaixo dos 8%.

Na prática, esses Estados estão conseguindo fazer o melhor de 2 mundos. O aumento da renda média significa aumento da qualidade de vida da população sem a dependência de transferências governamentais ou ajudas indiretas, demonstrando que as pessoas estão melhorando de vida mesmo que a pequenos passos. Como se pode constatar, o nível de desemprego caindo significa diminuição na desigualdade social e, consequentemente,um resultado positivo para saúde, educação e segurança pública.

Mas por que isso ocorre? Algumas características são próprias desses Estados. A primeira está no setor agrícola. A grande maioria desses Estados são os principais produtores dos gêneros alimentícios que exportamos; isso comprova nossa competência como campeões mundiais. Ao mesmo tempo, trata-se de um setor em que nossa tecnologia é de ponta e que a produtividade dos trabalhadores desse setor também é alta. De maneira análoga, esses Estados também possuem grandes indústrias e um centro econômico dinâmico, o que facilita a produção, o transporte e a distribuição. Importante ressaltar ainda que alguns deles possuem níveis menoresde impostos, o que incentiva novos negócios e, consequentemente, facilita a abertura de novas empresas.

Toda essa heterogeneidade nesses importantes indicadores nos permite algumas afirmações importantes como sociedade: políticas públicas importam! Níveis de impostos cobrados nos Estados importam! Investimento em Educação importa! Estratégias de longo prazo e políticas de Estado importam!

O que precisamos fazer como sociedade é dar mais valor aos dados e às estatísticas que são divulgadas do que aos discursos dos líderes de plantão. Ao acompanhar as últimas eleições, principalmente de governos continuístas, a frase que foi mais proferida foi “Continuar o que está bom!”, mas na prática pouquíssimos Estados estão de fato “bons” e podem se vangloriar por terem um bom resultadosobre o emprego e a renda. Existe, na prática, um longocaminho a percorrer pela maioria dos nossos estados brasileiros, e políticas públicas erráticas ou investimentos sem retorno fazem apenas esse gap entre Winners e Loserscrescer. É necessário esclarecer que o crescimento desse gap cobra a conta em forma de desemprego e menos renda; ou seja, ocorre disseminação da pobreza.

O motivo do presente artigo é chamar a atenção para entendermos que a melhor maneira para avaliar nossos gestores públicos é entendendo o que de fato eles entregam para a sociedade. Existem vários outros indicadores que podem ser comparados, contudo o desemprego e a renda são fundamentais quando colocamos uma lupa sobre políticas de desenvolvimento econômico, algo que é fundamental para a diminuição da desigualdade.

Vivemos hoje em um mundo bastante competitivo, onde investidores não pensam duas vezes para retirar seus recursos de locais que não lhes oferecem retorno. Governos que insistem em políticas públicas ineficientes ou populistas, e que não entendem o timing do desenvolvimento, acabam condenando sua população ao atraso. Esses Estados Winners não chegaram a essa situação do dia para a noite, porém são exemplos a serem seguidos, minuciados, entendidos e principalmente considerados fontes de ideias para que possamos ter uma nação menos desigual e com mais oportunidades, mais renda e menos desemprego.

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