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Não é boato: o que explica a suspensão das atividades da Gerdau no Ceará?

Steel. Foto: Freepik

Por Átila Varela

A suspensão das atividades da Gerdau no Ceará  levanta um questionamento: o que aconteceu de fato para que a empresa paralisasse duas siderúrgicas no Estado?

A começar, o próprio preço do aço. A China desacelerou o consumo da commodity seguiu exportando para o mercado mundial. Como falou o presidente da própria Gerdau, há uma “inundação” do produto do país asiático por aqui – ocasionando a paralisação das plantas no Estado. Se antes a tonelada do aço no mercado custava US$ 4,3 mil em março deste ano, atualmente o valor caiu para US$ 3,6 mil. A previsão é que os valores se mantenham para baixo.

Entra a lógica de mercado: se muitos estão produzindo e poucos comprando, o preço cai. Que medidas para evitar que o aço fique a preço de banana? Tirar o pé do acelerador e suspender a produção.  Os colaboradores? Enviá-los para o layoff, suspender contratos, mandá-los para reciclagens e treinamentos enquanto aguardam pacientemente o retorno de suas funções.

Siderurgia em queda

Para explicar melhor: a siderurgia brasileira vem passando por um processo de desaceleração, seja na produção de aço ou capacidade utilizada. Esta última, por exemplo, beirava 63% em agosto, enquanto a capacidade ociosa atinge 40%. Os números são do Instituto Aço Brasil.

As exportações, por outro lado, só aumentaram. De janeiro a agosto, atingiram 49,5% no comparativo com 2022. Veja na tabela abaixo:

 

Questão política 

De fato, há uma pressão do setor siderúrgico para que o Governo Federal busque medidas para proteger o produto brasileiro. É o que afirma o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Ceará (Simec), César Barros Júnior. “É difícil competir com o aço chinês, a não ser que o Governo aumente a alíquota do imposto do produto importado”, declara.

Sobre a paralisação das unidades da Gerdau no Ceará, o presidente do Simec não acredita que a situação evolua para um fechamento. “Quem quer fechar, fecha tudo. Zera de uma vez. O que eles estão fazendo é uma manutenção do forno e da aciaria”, explica.

Empresários, por outro lado, seguem preocupados (não é boato). Uma fonte ligada ao setor disse ao Focus ” que o aço desceu a níveis de preço que devem estar causando náuseas nas usinas siderúrgicas”.

Já outro empresário associado do Simec, que comercializa com a Gerdau, foi didático em sua explicação: “Comprávamos um determinado produto após a pandemia por x.  Depois do mercado se ajustar voltou a um preço 2 vezes x, sendo que antes da pandemia não estava assim. Falam que existe demanda, mas não e bem a verdade. Houve queda e o aço importado, junto com isso, empurrou os valores do produto fabricado no Brasil para baixo. O mercado do aço acendeu a luz amarela. Para passar para a vermelha não demora. Enquanto isso, o mercado consumidor acha bom o preço baixo, porém sofre com a baixa demanda. A equação é difícil de resolver.” Para ele, esse tipo de medida nada mais é do que “pirraça” da Gerdau. “É pressão política. Suspendem as atividades para pressionar o governo”.

O mesmo executivo se mostra otimista com o retorno das atividades das siderúrgicas da empresa gaúcha no Ceará. “Tomara que cumpram e retornem às atividades em janeiro de 2024.”

É bom lembrar que a Gerdau não deu nenhum parecer de retomar a produção em 2023.

Aumento da alíquota de importação

Qual a solução para o setor da siderurgia nacional voltar a decolar? De acordo com o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, a primeira ação é analisar a questão da tributação do aço. “Estava 9%. O governo subiu para 12,5%, mas o setor quer 25%. A siderurgia asiática tem maior índice de produtividade maior que a brasileira”, lembra.

A ideia é criar um mecanismo de proteção para que ocorra uma disputa em pé de igualdade com o aço chinês. “A tributação ainda é insuficiente para proteger a indústria local. Pode aumentar para 25%, mas, ao passo que o setor começa a apresentar melhora, pode ir reduzindo essa intervenção. Mas se o governo não pensar em algo, vai atrapalhar a retomada do setor e as empresas dele conexas”, complementa.

A suspensão das atividades da Gerdau, em sua avaliação, é um processo natural em períodos de indefinição. “Não compensa no momento a manutenção da produção. Faz uma restruturação do quadro, desliga alguns colaboradores e mantém outros até a empresa voltar a ter competitividade. Em outros casos, a empresa pausa a produção, avalia a operação e, se for interessante, repassa a fábrica para outra empresa do setor “, explica.

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