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Juazeiro do Norte: Camilo vai a campo para derrotar aliado de Ciro

Foto: Divulgação

Há uma iminente disputa em Juazeiro do Norte, onde o Ministro da Educação, Camilo Santana (PT), se empenha em conciliar duas correntes dentro do bloco governista para as próximas eleições: os deputados estaduais Fernando Santana (PT) e Davi de Raimundão (MDB).

Ambos são tratados como concorrentes significativos para as eleições de outubro na cidade. Por essa razão, o ex-governador do Ceará busca unificar a base visando derrotar o atual prefeito de Juazeiro, Glêdson Bezerra (Podemos), que almeja desafiar a tradição do município de nunca reeleger um gestor.

As armas de Glêdson Bezerra

“Tenho uma convicção sólida no poder dos resultados, e, felizmente, contamos com avanços consideráveis para apresentar à população”, expressou o prefeito atual, confiante em sua possível reeleição. “Conseguimos acertos em todas as áreas. Diante desses feitos, mostraremos o que outros apenas tentaram na história de nossa cidade”, detalhou, em entrevista, ao Focus.

“Aliás, essa estratégia foi adotada quando percebi que alguns gestores anteriores seguiram o mesmo caminho, o qual culminou em fracasso, como evidenciado pela não reeleição de nenhum deles. Decidimos romper com o paradigma, buscando uma abordagem diferente na política”, detalhou o gestor.

“Proporcionamos uma administração de alto nível, abandonando as práticas provincianas típicas de cidades pequenas. Aspiramos à imagem de uma cidade de porte médio, investindo em áreas como saúde, educação, esporte, lazer, cultura e assistência. Acreditamos nesses indicadores, e, ao avaliar nosso desempenho, a população verá o sucesso que podemos alcançar”, afirmou Glêdson, expressando certo otimismo. 

Glêdson Lima Bezerra, de 1º de outubro de 1981, nasceu em Juazeiro do Norte. É casado e pai de dois filhos. Possui graduação em Direito pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e, em 2008, foi eleito vereador no seu município pelo PTB, sendo reeleito em 2012 pela mesma legenda. Em 2016, conquistou novamente um assento no legislativo pelo PMN.

Já durante seu mandato, presidiu a Câmara Municipal no biênio 2017-2018. Em 2018, concorreu ao cargo de deputado estadual, mas não obteve um bom resultado. Por último, em 2020, Glêdson garantiu 50.715 votos válidos para administrar o seu município. O ex-prefeito de Juazeiro, Arnon Bezerra (PTB), teve 48.079 votos, representando 36,20%.

Nelinho (PSDB) obteve 18,91%, com 25.114 mil votos válidos. Ana Paula Cruz teve 3,84%, e Demontieux Cinquentinha (PSOL) 2,87%.

Quem é Fernando Santana?

Enquanto isso, o petista, o quarto deputado estadual mais votado em 2022, conta com o apoio do deputado federal José Guimarães, líder do governo Lula na Câmara, e do presidente do PT no Ceará, Antonio Filho, conhecido como Conin.

Com uma inclinação natural para a vida pública, Fernando iniciou sua trajetória na militância política aos 18 anos de idade. Logo assumiu cargos públicos, passando por experiências na gestão municipal, onde atuou como Secretário de Esportes e Juventude de Barbalha, marcando suas ações pelo estímulo ao esporte e juventude local. Também ocupou o cargo de secretário de Governo naquele município, articulando ações e projetos importantes para o seu desenvolvimento.

Fernando é esposo da irmã de Onélia Santana, ex-primeira-dama do Ceará, que é casada com Camilo. Compartilham o mesmo sobrenome, que na verdade pertence às irmãs. Essa revelação surpreendentemente foi a única que a assessoria transmitiu quando questionada. 

Além de tudo isso, atuou como coordenador da campanha eleitoral do então candidato ao Governo do Ceará, Camilo, na região do Cariri, em 2014. Convidado pelo governador eleito, assumiu o cargo de Secretário Adjunto do Gabinete do Governador, desempenhando um importante papel de articulação política junto às prefeituras, o que resultou na implementação de inúmeras ações do governo no interior do Ceará.

O Focus entrou em contato com, aproximadamente, quatro assessorias diferentes, sendo que, uma delas, ao ler as perguntas referentes ao Glêdson, confessou que Santana só queria falar dos méritos de sua carreira, não de seus oponentes ou conflitos do passado. 

Quem é Davi de Raimundão?

É importante ressaltar que o MDB lançou Davi de Raimundão como pré-candidato da legenda à Prefeitura, com o respaldo do presidente estadual, Eunício Oliveira, um aliado dos petistas nas eleições estaduais, mas que busca direcionamentos para o partido nas competições municipais.

Com o apoio de Eunício, Davi recebe um suporte que levanta incertezas sobre a continuidade da aliança em Juazeiro entre o MDB e o PT. Também fica a expectativa se isso terá repercussões relevantes em Fortaleza.

Na Capital, o MDB parece não se esforçar para conquistar a vice-prefeitura, considerando que já tem Jade Romero ocupando o cargo de vice-governadora. Será que Eunício abriria mão de lançar uma candidatura própria do MDB em prol do Partido dos Trabalhadores nos dois maiores municípios do Ceará?

Davi é filho e herdeiro político de Raimundo Macedo, mais conhecido como Raimundão, ex-deputado estadual por quatro mandatos. Raimundão também ocupou a posição de prefeito do município em duas ocasiões, de 2005 a 2008 e de 2013 a 2016, além de ter sido vice-prefeito de 1989 a 1990. Um líder cujo nome está enraizado na história da cidade, em suma. Atualmente, Raimundão é deputado estadual, médico e figura política influente.

Questionada sobre uma eventual aliança com Fernando, a assessoria de Davi preferiu não se manifestar. 

Fernando Santana e Glêdson Bezerra

Glêdson apoiou Fernando durante as eleições de 2022 , na expectativa de uma reciprocidade em 2024. “Não posso deixar de mencionar que sofri uma traição significativa; na verdade, não foi apenas uma traição velada, foi frontal”, declarou ao abordar a pré-candidatura de seu antigo aliado.

Sobre essa dor, ele expressa lamento. “Ele assumiu um compromisso comigo e não o honrou. Inclusive, muitas pessoas que me acompanharam na época em que anunciei meu apoio a ele expressaram preocupações; me alertaram sobre não fazer essa aliança, destacando que ele era conhecido por não cumprir acordos na região do Cariri”, disse Glêdson.

“Mesmo assim, acreditei em sua palavra. Tivemos uma conversa franca. Eu expus seu histórico e ele reconheceu, admitindo sua imaturidade no início de sua trajetória, mas afirmou ter mudado. Me sentia convencido de que, ao apoiá-lo, ele me ajudaria em minha reeleição. Ele afirmava ser a melhor opção para Juazeiro, chegou até a prometer esforços para angariar recursos”, relembrou.

“No entanto, para minha surpresa, em uma entrevista posterior, ele não descartou a possibilidade de se lançar como pré-candidato a prefeito. Alegou que era uma estratégia e prometeu retirar sua candidatura posteriormente para ficar ao meu lado. Infelizmente, percebemos que seus aliados começaram a me atacar, os recursos não foram liberados, e só então notei que não deveria ter depositado minha confiança nele. Fiz o meu melhor, percorri de porta em porta, mas em troca, recebi isso. Foi uma traição, sem dúvida”, lamentou Glêdson ao Focus.

Glêdson Bezerra e o PDT

Contudo, Glêdson mantém uma relação sólida com os pedetistas. Líderes como Ciro Gomes frequentemente destacam a “traição” por parte dos principais nomes do PT, liderados por Camilo, em Fortaleza.

O rompimento na Capital, consequentemente, persiste, levando até mesmo o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, a deixar o PDT para se filiar ao PT. Evandro, apesar de ter atuado muito tempo na antiga sigla, sempre teve uma amizade mais intima com as lideranças do Partido dos Trabalhadores.

Atualmente, Evandro é pré-candidato à prefeitura de Fortaleza pelo PT, aprofundando ainda mais as divergências entre os dois grupos.

Em Juazeiro, seguindo essa lógica de que os petistas “apunhalam pelas costas”, o traidor é Fernando. Após todos esses eventos e fatos, Glêdson recebeu um apoio do partido de Leonel Brizola. Membros proeminentes do partido, como Ciro e André Figueiredo, estiveram presentes em Juazeiro no último mês, por exemplo, para participar do lançamento da pré-candidatura à reeleição.

A contrapartida: o partido liderado por Ciro busca um candidato a vice para compor a chapa no município. O escolhido para essa posição é Diogo Machado, ex-titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Serviços Públicos (Semasp).

Glêdson, aceitando todo apoio, manifestou sua visão, destacando a capacidade e competência encontradas nos principais grupos, PDT e União Brasil, historicamente rivais na Capital. “Em suas fileiras, existem grandes nomes e serviços relevantes prestados ao Ceará”, afirmou.

“Acredito na possibilidade de unir o que há de melhor, combinando vontade política com o desejo de melhorar a vida das pessoas. Fico muito satisfeito em unir indivíduos de lados opostos. Em Juazeiro, acreditamos na união de esforços para continuar o desenvolvimento. Não vejo problemas em unir essas pessoas e agregar o melhor de cada uma”, explicou. O União Brasil no Estado é liderado pelo pré-candidato em Fortaleza, Capitão Wagner, crítico e opositor dos Ferreira Gomes.

O ex-prefeito Roberto Cláudio, uma das lideranças pedetistas no Estado, concordou com Glêdson. Para ele, “Glêdson vem realizando um trabalho sério e de muitos resultados à frente da Prefeitura”. “Tem uma gestão bem avaliada pela população e um trabalho em andamento que merece continuidade”, explicou ao Focus

“O PDT irá apoiá-lo em sua candidatura à reeleição, e pessoalmente também me envolverei, pois acredito em seu projeto. Entendo que a definição da composição da chapa só ocorrerá durante as convenções”, acrescentou.

“Os cenários das eleições locais são determinados muito mais pela composição das forças políticas municipais do que pela repetição automática das alianças estaduais ou nacionais entre os partidos políticos. No caso de Juazeiro, o mais importante é somar esforços e lideranças em torno da pré-candidatura à reeleição do prefeito Glêudsdon para garantir que seu bom trabalho possa continuar”, continuou RC.

O que diz a direita?

Já Capitão Wagner, também ao Focus, afirmou que terá pouco tempo para trabalhar no interior do Estado, visto que também se candidatou para Fortaleza. Como presidente do União Brasil, CW colocou seu nome à disposição do prefeito. “Somos aliados desde 2020; não há novidade em apoiá-lo. A novidade é a vinda de outros partidos”, afirmou em relação ao PDT.

“Estou com ele há anos, na época era o PROS, hoje é o União Brasil. Meu posicionamento não mudou em nada. E faz sentido… para ter mais tempo de TV e rádio, ele busca novas adesões, até porque perdeu algumas. Então, não haverá divisão de palanque com os pedetistas, pois não estarei lá”, prosseguiu.

Capitão Wagner disse que a outra novidade é sua possível reeleição, com um planejamento de campanha essencial, com tempo de TV e rádio, mostrando o que ele fez. “Somos o terceiro maior partido em tempo de TV e rádio. A candidatura de Glêdson é competitiva e tem chance de vitória”, afirmou.

A liderança bolsonarista no Estado, o presidente estadual do PL, Carmelo Neto, também está apoiando o prefeito Glêdson. Para ele, “a sigla está totalmente alinhada com o suporte à reeleição do gestor, reconhecendo sua gestão eficaz em Juazeiro do Norte”.

“Consideramos que ele representa a melhor escolha para garantir a continuidade do progresso e evitar um governo desordenado do PT. Sob sua liderança, importantes iniciativas têm melhorado a vida dos habitantes locais, e estamos confiantes de que esses avanços serão ainda mais significativos nos próximos quatro anos”, afirmou o opositor cearense do Partido dos Trabalhadores com exclusividade ao Focus.

Haverá um segundo turno?

A expectativa de um segundo turno nas eleições municipais de 2024 em Juazeiro do Norte não se concretizou, visto que a maior cidade do Cariri irá para as urnas com 199.223 eleitores aptos a votar para prefeito, vice-prefeito e vereadores.

São necessários mais de 200 mil eleitores para que uma cidade tenha um segundo turno em uma eleição municipal, caso nenhum candidato alcance a maioria absoluta dos votos válidos. Por conseguinte, restariam 778 eleitores, aproximando Juazeiro de superar a marca para a próxima eleição municipal em 2028.

Perfil econômico e social de Juazeiro

Em 2022, Juazeiro do Norte registrou 52.778 empregados, refletindo um aumento de 3,54% em relação ao ano anterior. A remuneração média atingiu R$ 2.385,50, enquanto o número de estabelecimentos cadastrados foi de 8.525, indicando uma redução de 4,56% comparado ao ano anterior.

Os setores que mais empregaram foram o Comércio Varejista (10.496 trabalhadores), Administração Pública, Defesa e Seguridade Social (6.530), e Serviços de Escritório, Apoio Administrativo e outros serviços (5.346).

Em relação ao gênero, 47,4% dos trabalhadores eram mulheres, com remuneração média de R$ 2.385,37; 52,6% eram homens, com média de R$ 2.385,61.

Segundo dados da Receita Federal do Brasil, dos estabelecimentos registrados até 2024, 8,07% são classificados como “Outros” (1.875 estabelecimentos), 51,2% como Micro Empreendedor Individual (MEI) (11.909 estabelecimentos), 37% como Microempresa (ME) (8.610 estabelecimentos), e 3,67% como Empresa de Pequeno Porte (EPP) (852 estabelecimentos). Todos os dados são do Data MPE Brasil.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Juazeiro possui um PIB de R$ 4.427.525,37 mil IBGE/2017. Com a crescente formalização da economia nos últimos anos, tornou-se a quinta maior economia do Ceará, atrás apenas de Fortaleza, Maracanaú, Caucaia e Sobral.

Educação

A pontuação média no ENEM em Juazeiro do Norte foi de 369 pontos em 2022. Por disciplina, as médias foram: 378 pontos em Matemática, 372 em Língua Portuguesa, 343 em Ciências da Natureza e 381 em Ciências Sociais.

As principais instituições de ensino superior em termos de matrículas foram o Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (5.422 alunos), o Centro Universitário Paraíso (2.528 alunos) e a Universidade Federal do Cariri (2.498 alunos).

Confira alguns gráficos da pesquisa:

A importância estratégica de Juazeiro

Devido à presença de Padre Cícero, Juazeiro do Norte é reconhecido como um dos principais centros de religiosidade popular do Brasil. Além disso, destaca-se como um significativo polo cultural, sendo um dos maiores centros de artesanato e literatura de cordel do Nordeste.

Academicamente, é um dos principais polos do interior Nordestino e é considerado uma “Capital regional”, conhecida como a “Metrópole do Cariri”.

Ou seja: o município exerce influência significativa sobre o Sul do Ceará, sendo um centro vital para compras, serviços regionais, turismo e educação. Esse desenvolvimento resultou em uma estreita integração com os municípios vizinhos de Crato e Barbalha, culminando na conurbação das três cidades ao longo das avenidas Padre Cícero e Leão Sampaio.

Já o Aeroporto Orlando Bezerra de Meneses (JDO) desempenha um papel crucial na conectividade regional, atendendo não apenas Juazeiro, mas também áreas do Ceará, Pernambuco e Paraíba. Com capacidade para 800 mil passageiros por ano, é um dos maiores e mais movimentados do interior nordestino, facilitando turismo religioso, de negócios e cultural. 

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