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FlixBus usa empresa de Brasília para entrar no Nordeste com práticas anticoncorrenciais

Acidente que deixou quatro mortos e 20 feridos na Bahia em 2022. A empresa vai trocar a marca Catedral por FlixBus, mas, na prática, continuará sendo Catedral.

Com frequência, o setor de transporte de passageiros por via terrestre no Brasil sofre duros ataques de grupos estrangeiros estruturados com base em fundos financeiros bilionários. O objetivo: gerar lucros destruindo o serviço formal e monopolizar um mercado que, no nosso caso, é responsável por transportar mais de 90% dos brasileiros que optam pelos ônibus para viajar a trabalho ou a lazer.

Depois da Buser agora é a Flixbus, de capital majoritariamente alemão, que sinaliza espalhar pelo Brasil a questionável, nefasta e ilegal prática de conquistar o mercado usando o artifício de oferecer viagens a preços forçosamente baixos com o objetivo de levar a concorrência à bancarrota.

A Flixbus se declara uma plataforma de venda de passagens que age através de empresas parceiras operadoras de segunda linha. Funciona dessa forma na Europa, região na qual ganhou espaço explorando o vácuo em um mercado dominado pelo transporte ferroviário. Por lá, o serviço tem regulamentação que muitos consideram negligente e o serviço é conhecido pela baixa qualidade com o uso de empresas de pequeno porte que, na realidade, fazem as viagens como se fossem a Flixbus.

Com aportes financeiros de grande envergadura oriundos de fundos de investimentos, a Flixbus
invadiu rapidamente o mercado europeu praticando inicialmente preços baixíssimos, configurando uma atuação claramente anticoncorrencial. Avalia-se que o objetivo não declarado foi conquistar rapidamente o monopólio do setor, controlar o cadastro de clientes e, é claro, ganhar muito dinheiro nas etapas posteriores já com a concorrência quebrada ou ajoelhada e, portanto, livre para definir o preço das passagens visando atender aos interesses dos (talvez) incautos investidores.

Para que os leitores tenham uma ideia, tal estratégia de ação fez com que a Flixbus tenha, em poucos anos de atuação, conquistado nada mais, nada menos do que absurdos 92,6 % de participação no mercado de transporte por ônibus na rica Europa. Assim, as empresas que eram parceiras, alguma muito tradicionais e com longo tempo no mercado, passaram a ser completamente dependentes da Flixbus.

A Flixbus aposta em uma marketing ofensivo. Os ônibus, que antes tinham as marcas das empresas proprietárias, agora levam o nome da Flixbus com uma comunicação visual que chama a atenção e passa a ideia de um serviço de qualidade mesmo que não tenha nem sequer um motorista em sua folha de pagamento. Dessa forma, o cliente, atraído por um preço que, na prática, pode configurar dumping (certamente isso será tema do Cade), não sabe que o verdadeiro operador não é a Flixbus e sim uma  outra empresa.

O problema vai além da possível prática de dumping. Em caso de acidentes, a Flixbus se posicionará sempre como mera plataforma de vendas de passagens. Portanto, não se responsabiliza pelos seguros de vida, não se responsabiliza pelos cuidados dos usuários em caso de acidentes, ao contrario do que acontece com o setor formal que está obrigado a respeitar todas as regras do setor. É tudo muito grave.

Ao vender passagens com valores baixíssimos para entrar e, na prática, se apossar do mercado, a Flixbus garante ao operador que executa a viagem o pagamento por km rodado. O caso caracteriza uma óbvia sublocação: a empresa autorizada por contrato pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) faz o serviço que na verdade é da Flix, numa clara burla ao sistema.

Ou seja, a Plataforma de venda de passagens, entra em mercados como o do Brasil com recursos milionários de fundos de investimentos tendo em mente um valioso e fatídico propósito: levar a concorrência à derrocada e, sem obstáculos, passar a controlar os preços e, aí sim, dar retorno financeiro em grande monta a investidores que, muitas vezes, são fundos com cotistas que muito possivelmente desconhecem essa prática extremamente questionável e nociva.

No dizer de um operador do mercado ouvido pelo Focus, “o discurso de marketing é falacioso ao oferecer mais transporte a todos e mais barato. É um canto da sereia que perigosamente dribla regulações”.

Uns dos dribles mais usuais e comuns é a não disponibilidade de assentos de gratuidades obrigatórias por lei, para idosos, jovens carentes e deficientes.

Em uma nota distribuída ao mercado, a Flixbus fala em democratização do acesso ao serviço de transporte. O procedimento chega agora ao Nordeste, região cuja população depende muito do serviço de ônibus. A propaganda é bonita: “Nossa missão é democratizar o acesso à mobilidade de longa distância”. Será mesmo?

O mercado já compreendeu há séculos que a oferta de preço excessivamente baixo para um serviço que tem muitos similares e concocorrentes é como o ovo da serpente. No caso, o potencial dumping e o abuso da voracidade mercadológica, sustentada por fundos milionários, com o objetivo final de dominar o mercado e, aí sim, impor aos usuários o preço que bem entende.

A FlixBus Brasil, que se autodeclara “empresa de tecnologia em transporte rodoviário controlada pela provedora mundial de mobilidade Flix”, anuncia a chegada em sete estados e 10 cidades do Nordeste. A empresa parceira, que foi, digamos, vampirizada pela Flix, chama-se Catedral, velha conhecida por sua longa lista de problemas (uma pesquisa no Google comprova).

Veja bem: a Flixbus pegou Catedral para fazer viagens de longa distância ao “valor promocional de R$ 9,99”. Inaginem uma viagem Fortaleza a Recife por R$ 9,99? É um preço que equivale a uma viagem de Uber de cinco minutos, percorrendo alguns poucos quarteirões em Fortaleza. A comparação oferece uma boa noção dos interesses que movem a multinacional que se apresenta como empresa de tecnologia.

A Catedral é uma empresa com sede em Brasília, personagem constante de irregularidades amplamente divulgadas em matérias jornalísticas que estão a um click de uma simples pesquisa na internet.

Um exemplo: Operação da Polícia Rodoviária Federal, em 2020, flagrou um veículo da empresa com com placas clonadas. A Catedral também foi alvo de operação por parte das Secretarias de Fazenda da Paraíba e de Pernambuco, tendo seus guichês lacrados por práticas de sonegação.

É muito provável que respeitáveis investidores que gostam de apostar em empresas ditas de tecnologia nem sequer saibam em que estão arriscando seus investimentos diante de tais práticas. A não ser que a gigante alemã, FlixBus, não esteja preocupada com as economias de seus investidores.

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