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Das fronteiras do Barão à apropriação da Amazônia; Por Paulo Elpídio Menezes Neto

O Barão do Rio Branco (1845-1912) foi o diplomata responsável por desenhar o mapa do Brasil da forma como conhecemos hoje, definindo as suas fronteiras. José Maria da Silva Paranhos Júnior ocupou o cargo de ministro das Relações Exteriores durante o mandato de três presidentes da República, desde 1902 até 1912.

Parte considerável do território brasileiro foi incorporada como decorrência da “diplomacia de fronteiras” , da qual o barão do Rio Branco é uma das mais firmes expressões.

As beiradas dos Andes, terras e rios amazônicos são brasileiros, hoje, graças a acordos pacíficos, com algumas dessas porfias submetidas a tribunais e a outras instâncias internacionais.

Esses tratados começam a ser questionados por querelantes que põem-se a reclamar das demarcações até agora respeitadas.

A insatisfação com a atual formatação territorial, na América do Sul, ganha substância com as inquietações geopolíticas que questionam o processo de colonização do continente e as teses de compartilhamento da Amazônia, a exemplo dos desvãos dos territórios antárticos, apropriados em comandita por alguns países, sócios do hemisfério. E, naturalmente, pelas jazidas de petróleo e de outros minerais raros que aguçam a esperteza dos novos colonizadores dos bens da terra.

A reivindicação reposta em discussão pela Venezuela, em relação à repartição dos territórios da antiga Guiana “inglesa”, é prenúncio de que ampla revisão de tratados e convenções sobre fronteiras nos levará, em breve, de retorno às mesas de negociação ou nos empurrará, feitos guerreiros, aos bivaques de ações militares para as quais os possíveis contendores não estão preparados.

Inevitável será, em situação beligerante concreta, a celebração, dada a nossa inexperiência no ramo, de alianças com potências internacionais ou a formação de consórcios regionais, inclusive de forças mercenárias, disponíveis no mercado internacional.

Enquadrado em circunstâncias reconhecidamente graves, que tendem infelizmente a ganhar força, o Brasil deparou-se com desequilíbrios climáticos de graves consequências, pegado assim de surpresa. Até a realidade chega por aqui de surpresa, de fininho, a abrir explicações e justificativas — a posteriori.

O tamanho das enchentes e o despreparo técnico dos governos diante da mobilização dos meios em escala sem precedentes no país, aprofundaram, como se viu, contraditórios ideológicos e políticos que põem a nu o espectro eminente e iminente do arbitrio e do autoritarismo em nossa vidas.

Do COVID à “inclemência da Natureza”, passamos sem transição, nos últimos 4 ou 5 anos, à estação da “inclemência política”.

Da confusão das cepas, do negacionismo de uns e do afirmacionismo de outros, um “blá-blá-blá” ideológico sem fim, chegamos ao desvario dos céus, com o dilúvio, desvalidos de uma arca salvadora, que sequer aprendemos a construir.

As vozes, pelas quais as pessoas crédulas esperavam, calaram; os “especialistas” em crise emudeceram, as ONGs fugiram desse teatro de guerra, a mídia cresceu na montagem de um “set” de grandes efeitos, de som, imagem e caridade subvencionados.

Como em um passe de mágica, os profissionais da governança obraram o milagre de transformar uma tragédia anunciada — em um fato político, pujantemente eleitoral.

Desses escombros de vidas e de ralas esperanças acumuladas nos chegam a notícia de que o governo prepara-se para anunciar aos brasileiros que lutará — por um novo e duradouro mandato!

Paulo Elpídio de Menezes Neto é articulista do Focus, cientista político, membro da Academia Brasileira de Educação (Rio de Janeiro), ex-reitor da UFC, ex-secretário nacional da Educação superior do MEC, ex-secretário de Educação do Ceará.

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