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Aliança PDT-PT: a crise previsível

Roberto Cláudio, Ciro Gomes e Camilo Santana em evento social. Era novembro de 2019, aniversário de Ciro. Dias turbulentos vieram.

Por Ricardo Alcântara*

Na origem do turbulento processo de definição da candidatura do PDT ao governo do estado já estavam colocados os fatores que determinaram o quadro indesejado de fracionamento com que esse processo chega à sua conclusão: a presença — fato novo, mas previsível — de um emergente protagonista no estamento decisório, o ex-governador Camilo Santana.

Camilo sempre atuou em sintonia fina com um polo dos Ferreira Gomes, o hábil e pragmático Cid, mas houve acúmulo de desgastes com o outro polo, representado por Ciro e personificado na figura do ex-prefeito Roberto Cláudio. Não agregaria nada ao objeto deste artigo esmiuçar o emaranhado de versões de parte a parte. Vamos em frente.

Resulta que Ciro pretende agora recuperar o comando político do estado, que fora “emprestado” para um filiado ao PT, “de confiança”, por decisão estratégica: impedir o lançamento de um candidato ao governo em 2014 patrocinado por Lula da Silva. A escolha recaiu em Camilo, uma espécie híbrida, que respira em terra firme e nas águas profundas.

Acontece que poder não se empresta: se dá e se toma. Camilo administrou por oito anos o orçamento do estado, saiu com a benquerença que do povo cearense conquistou e não poderia, agora, fingir-se de mero coadjuvante para buscar no senado somente uma aposentadoria precoce aos 54 anos de idade. Não dá.

Diante dos fatos, o PDT decidiu ganhar tempo ao simular uma dança que nunca ensaiara — a democracia interna — e lançou, com meses de antecedência à convenção, quatro pré-candidaturas: duas para valer (Izolda Cela e Roberto Cláudio) e outas duas para embaçar o ambiente de evidente polaridade (Evandro Leitão e Mauro Filho).

Com pendor misógino, colocou no mesmo patamar de disputa uma governadora e os liberou, como iguais, para ir à cata de apoios, mas a pressão externa, dos aliados, ampliou o campo de participação para além dos limites previstos e o que era uma simulação de disputa tornou-se uma competição de fato. Os caciques ficaram aturdidos. Foi um festival de tropeços.

A última derrapagem nessa sucessão de trapalhadas foi a decisão de realizar uma pesquisa de opinião para dimensionar o que todos já sabiam por outras sondagens — uma inacreditável tentativa de levar na conversa gente experimentada, subestimando, no limite do desrespeito, a inteligência de pessoas que a eles nunca negaram lealdade. Pegou mal.

Aquilo é coisa de quem tirou os pés do chão e já confunde seus desejos com a realidade em grau de subjetividade comprometedora, enquanto o adversário principal da oposição agradece a gentileza de tantos erros. Das últimas reuniões, se extraiu um compromisso comum com a sobriedade nos dias finais até a decisão. Ainda há tempo para a conciliação?

*Ricardo Alcântara é publicitário e escritor.

 

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