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A pré-campanha de Fortaleza; Por Ricardo Alcântara

Lá fora, nas ruas dos homens comuns em meio à pré-campanha de Fortaleza, a polarização de sentimentos é entre a esquerda reunida em torno de Lula e a direita, mais amplamente anti petista do que propriamente bolsonarista.

De um lado, está uma parcela da sociedade que decide seu apoio com base na necessidade da presença forte do Estado para reverter o quadro de pobreza.

De outro, setores que acreditam na força dinâmica do liberalismo como rota de prosperidade e defendem padrões tradicionais de costumes, alguns com inclinações teocráticas.

No entanto, a pré-campanha para a prefeitura de Fortaleza se inicia com parâmetros outros: ganha maior visibilidade uma polarização no próprio campo progressista, pondo à sombra a direita.

Cabe analisar quais motivações alimentam o arrivismo precocemente rude entre o PDT de José Sarto e o PT de Evandro Leitão – e aí há um mix de elaboração cerebral e reações intestinas.

O ringue está montado desde as eleições de 2022 governos estadual e federal, um conflito já por demais conhecido entre Ciro Gomes, Camilo Santana e outros, determinante para a até então improvável eleição de Elmano de Freitas – e não Roberto Cláudio e Izolda Cela, como previsto.

Embora exista essa predisposição à agressividade, há também fatores estratégicos em jogo: ambos, Sarto e Evandro, têm um interesse comum quando se escolhem como adversários de primeira linha.

Trata-se de isolar a representação conservadora, para garantir às suas candidaturas, mais estruturadas pelo apoio governamentais, assento na disputa de segundo turno.

A preço de hoje, precisam de uma direita desidratada. Para o pouco conhecido Evandro, é garantia de acesso ao segundo turno. Para Sarto, uma vez derrotada, a direita seria uma aliada certa no turno final.

Faz sentido, pois a oportunidade já foi oferecida: a fragmentação suicida das candidaturas de direita em três nomes: – Capitão Wagner, André Fernandes e Eduardo Girão – os convida para dançar.

Antes unidos sob o abrigo espaçoso do governo Bolsonaro, os três direitistas tratam agora – naufragado o Titanic dos celerados – de desfazer a banda e partirem para a aventura incerta de carreiras solo.

Paira sobre as cabeças de Capitão, André e Girão a ameaça de invisibilidade: enquanto a mídia se ocupa com as caneladas entre Sarto e Evandro, o que teriam eles a acrescentar, senão dar razão a ambos?

No contexto desse quadro, o candidato do PT, Evandro Leitão, atinge mais de um alvo com a estratégia de polarização com o prefeito candidato, além daquele já comentado.

Ao apontar na direção de Sarto, Evandro – cristão novo na paróquia lulista – franze a testa e fecha o punho ao ativar como dispositivo de enfrentamento um modelo de discurso “hay gobierno, soy contra” que favorece uma maior identificação sua com os petistas raiz.

É este o cenário de disputa que deverá se impor até próximo das convenções partidárias, a menos que a direita aceite a imposição dos fatos e trate de sacrificar aspirações individuais em favor da mensagem central que os une, o que hoje parece pouco provável.

Ricardo Alcântara é escritor, publicitário, profissional do marketing político e articulista do Focus.

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