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Tasso: fracasso de Lula na economia “ressuscitaria” Bolsonaro

Senador Tasso Jereissati. Foto: Divulgação

Equipe Focus
focus@focus.jor.br

O senador Tasso Jereissati, em término de mandato, afirmou que caso o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fracasse na economia, Jair Bolsonaro pode “ressuscitar”. O tucano também ressaltou que sempre foi oposição do PT, mas torce pelo sucesso do Governo Lula.

O parlamentar também ressaltou que as instituições seguem ameaçadas, considerando que parte da população questiona o resultado das urnas.

Falou ainda que o PSDB cometeu “muitos erros”. Um deles foi contestar a eleição de Dilma Rousseff em 2014.

Abaixo, a entrevista que o parlamentar concedeu ao Valor Econômico:

“Qual o risco da PEC da Transição?

Tasso Jereissati: Desde o início da apresentação dessa PEC, tenho visto isso com muita preocupação. Quando fiz a proposta de elevar o teto em R$ 80 bilhões, isso era o necessário para cobrir os projetos sociais. Isso seria suficiente para o Bolsa Família, o Farmácia Popular e, se não me engano, mais algumas coisas menores. No entanto, quando você pega projeções de economistas sobre a trajetória da dívida, aqueles R$ 175 bilhões reivindicados pelo novo governo levariam a uma perda de controle da dívida até o fim do governo Lula.

Com certeza, no fim do governo, estaríamos chegando perto de 100% da relação dívida PIB com as consequências que todos sabemos: juros altos, inflação alta, déficit primário e crescimento pífio, que é o pior cenário. Então nós trabalhamos muito na tese, e essa o governo aceitou bem, de elevar o teto, em vez de furar o teto. Essa tese o governo atendeu, diminuiu em R$ 30 bilhões [o valor da PEC], mas no meio do caminho foram colocados outros penduricalhos. Então somando chega em R$ 200 bilhões, o que gera intranquilidade maior. Esta circunstância aponta para juros altos por muito tempo, inflação alta por muito tempo, provavelmente vamos ter que conviver com déficit primário.

Por que o senhor acha que o PT optou por esse caminho?

Tasso: A motivação, pra mim, é muito clara. Quando o Lula foi presidente, eu estava aqui no Senado pela primeira vez e tive um contato muito próximo porque a oposição ao governo éramos nós, era o PSDB. Estávamos sempre dispostos a conversar e construímos um diálogo com a equipe econômica da época. A gente percebeu que o Lula era muito disciplinado em relação à questões econômicas. Ele ouvia e escutava o que a equipe econômica sugeria. Só que a equipe era composta pelo Palocci, que era o grande negociador, Marcos Lisboa, Joaquim Levy, Bernard Appy, ou seja, era uma equipe econômica de primeira linha e que colocava a questão fiscal como um ponto fundamental de política pública. E o Lula aceitava isso. Qual é a diferença? Me parece que o grupo que ele está ouvindo hoje tem um pensamento econômico oposto daquele. Eles acreditam que a questão fiscal é menos importante porque, à medida que você gasta mais, você investe e o Estado é quem promove o crescimento. A maior parte dos economistas ligados ao PT raciocina assim.

Também está no escopo da PEC a obrigação de se apresentar uma nova âncora fiscal. Qual sua avaliação sobre isso?

Tasso: Eu acho fundamental e urgente que o governo defina logo qual é esse novo arcabouço fiscal já que, durante a campanha, não só o PT, mas outros candidatos culparam o teto de gastos. Decretaram a morte do teto de gastos na campanha e decretaram agora [na PEC], então é importante que venha o quanto antes este novo arcabouço fiscal. Isso [nova âncora fiscal] é importante para o mercado tranquilizar-se de que tem uma regra e que o gasto tem um limite. Eles [PT] me prometeram que vão apresentar essa âncora até abril, mas até lá vai ficar uma incerteza, como se não tivesse nenhuma regra. A tendência histórica no Brasil é o gasto ir sempre crescendo e acho que dentro do pensamento deles, eles não veem o crescimento de gastos como um problema.

Outra discussão que veio à tona com a PEC é a constitucionalidade das RP 9 [emendas de relator, que permitem operar o Orçamento secreto, mecanismo pelo qual um parlamentar pode destinar recursos sem se identificar]. Como o senhor vê isso?

Tasso: Eu vejo isso como um elemento perigosíssimo, porque a RP9 deteriora não a economia, mas a democracia. A relação entre Congresso e Executivo passa a ser prejudicada na sua ideia clássica de harmonia e independência entre os poderes. Leva, qualquer que seja o presidente, a ficar refém do Congresso. Agora o presidente está refém do Congresso e as bancadas estão reféns do RP9. Você gera um círculo vicioso profundo. Acho o RP9 profundamente deletério.

Que Brasil é esse que o Lula recebe pós-Jair Bolsonaro?

Tasso: Eu cheguei aqui ao Senado quando o Lula estava chegando para a primeira Presidência dele. E o meu primeiro discurso foi celebrando a chegada do Lula. Foi uma transição perfeita. Eu não pensava como Lula, mas era um momento especial para o Brasil. Mais de 20 anos depois, venho reconhecer que estava errado, porque voltamos a ter as instituições ameaçadas, com sua credibilidade em dúvida, parte da população questionando essas instituições. E alguns hábitos políticos retornaram com muito vigor, com outra cara e com outro nome. Do ponto de vista das instituições democráticas e dos hábitos políticos, há melhoras e pioras. Eu acho que, com esse RP9, nós andamos para trás.

Qual avaliação o senhor faz das eleições de 2022 para os partidos de centro?

Tasso: Os partidos acabaram. Se você olhar para trás, os partidos que vou chamar de democráticos sumiram, e os que têm dono cresceram e são maiores. Os partidos da redemocratização, MDB, DEM, [antigo PFL], o próprio PSDB, o PCdoB, todos desapareceram. Quais são os grandes? Com exceção do PT, você tem o PL, do Valdemar Costa Neto, União Brasil, do Luciano Bivar, o PSD, do Gilberto Kassab. Veja, eu admiro o Kassab, é meu amigo, mas um retrato de que os partidos hoje não representam uma ideia, um programa, é que o Kassab é um dos homens mais influentes do governo bolsonarista em São Paulo e, ao mesmo tempo, um dos mais influentes do governo do Lula. Você olha e pensa o que é o PL, o União Brasil? Se forem para o poder, qual vai ser o programa que vão levar? Não existe. Neste sentido, houve um retrocesso e é preciso reconstruir isso.

O senhor consegue enxergar uma recuperação do PSDB a partir desse quadro político?

Tasso: Eu consigo enxergar um PSDB menor, mas melhor, como ele foi quando nasceu. O PSDB nasceu um partido pequeno, mas que todo mundo reconhecia como o que tinha os melhores quadros: Montoro, Fernando Henrique, Covas. Era um partido pequeno, mas altamente qualificado, que, em função disso, todo mundo queria ter dentro do seu governo. Era uma grife. A qualidade, com o tempo, se transformou em quantidade. Hoje, realmente, passamos por uma crise grande. Mas estou vendo uma grande oportunidade para um novo PSDB com os velhos princípios, parecendo com aquele PSDB lá de trás. Ele vem renovado, existe um espaço claro que é de centro, porque esses novos partidos não ocuparam esse espaço. E vejo uma nova geração quase ao nível dos fundadores, aparecendo aí: Eduardo Leite, Raquel Lyra, que é uma liderança espetacular, o Pedro Cunha Lima, excepcional, o Eduardo Riedel, no Mato Grosso do Sul. E a proposta que fizemos e foi unanimidade na direção executiva do partido é entregar, a partir de fevereiro, o PSDB para essa moçada, com ideias claras, sociais, democratas e liberais no sentido da economia, mas na postura ética que guiou o PSDB. É uma base pequena, mas com lideranças expressivas aparecendo.

Onde o PSDB errou nesse caminho?

Tasso: São muitos erros. O primeiro, que não era a nossa cara, foi contestar a eleição da Dilma. O fato de o PSDB ter sido poder por muito tempo fez também com que o partido tivesse um inchaço, que não correspondia ao corpo, ao ideário do partido.

O senhor participou das grandes reformas dos últimos anos. Qual mais o marcou?

Tasso: Este último mandato foi rico em variações. Passamos por Dilma, Temer, Bolsonaro e, agora, o pré-Lula. A reforma mais difícil, por incrível que pareça, foi o marco do saneamento. Os lobbies de pessoas não interessadas em destravar o monopólio das estatais foram muito fortes e violentos. Foi a coisa mais difícil e importante que fiz. Corri o Brasil e a coisa mais degradante é ver uma criança brincando em cima do esgoto. Com um tablet, um celular na mão, mas brincando em cima do esgoto. A questão da miséria no Brasil não é só de renda, mas de condições.

O senhor apoiou Lula no segundo turno. O que espera dele?

Tasso: Votei e apoiei Lula porque sou de uma geração que viveu a ditadura. Valorizamos a democracia e vi que isso estava em xeque. Ninguém que tenha empatia mínima pela coisa pública coloca um ministro da Educação como aquele Weintraub. Nem coloca um Pazuello na Saúde, em plena pandemia. Nem renega vacina, despreza a pandemia. Lula é um democrata. Veja, todo presidente erra. Mas, espero, não os mesmos erros. Estou preocupado que ele sempre se refere aos governo dele, não os do PT, que incluiria Dilma. E a Dilma cometeu erros que, parece, tem gente com vontade de repetir. Se não fizer pelo menos os mesmos erros, está bom. Meu medo é que, se o governo Lula chegar ao fim dos quatro anos com inflação alta, crescimento pífio e todas as consequências dessa situação, isso ressuscite Bolsonaro para 2026. Por isso, torço para que Lula dê certo.

Qual o saldo do bolsonarismo?

Tasso: Bolsonaro teve metade dos votos, praticamente. Quanto disso era a ascensão de uma extrema direita de gente intolerante, negacionista, preconceituosa, com tendências autoritárias? E quanto era apenas anti-PT? E o que permanecerá, o Bolsonaro ou o bolsonarismo? Essas são as questões. Pelo que vejo, a maioria larga o Bolsonaro e vai para o Centrão.

Lula diz que fará um governo de transição, de um mandato só. Como o senhor imagina 2026?

Tasso: Se rompermos esse ciclo de PT seguido de Bolsonaro e depois PT, e Bolsonaro não voltar, a expectativa é que o povo em 2026 esteja exaurido da polarização. E viria um governo democrata, republicano, responsável, mas avançando na questão social, que é o mais grave problema brasileiro. E isso se faz com centro. Com quem, não sei. A Simone Tebet (MDB) cresceu muito. Eduardo Leite será o nosso presidente do PSDB e é um nome que desponta nesse grupo ao centro. O ideal é que se juntem.”

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