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Modelos de Negócio naufragam. Você vai ser o Jack ou o Guy Laliberté? Por Pádua Sampaio

Pádua Sampaio é publicitário, empresário, professor e colaborador do Focus.jor, no qual assina artigo às quintas-feiras.

Outro dia, assisti a uma bela exposição sobre a exaustão nos modelos de negócio como um todo. A tese era muito simples: todo modelo de negócio tende a se desgastar e a apresentar margens cada vez menores ao longo do tempo, num constante processo de
“comoditização”.

Isso pode se dar por vários motivos: diminuição das barreiras de entrada – ficou fácil fazer o que só você fazia – aumentando a concorrência. Pode ser pelo avanço da tecnologia, que simplifica processos complexos ou ainda por uma mudança cultural, como a substituição do adquirir pelo usufruir.

Exemplo: jovens que completam 18 anos e já não pensam em tirar a carta (é o novo, a carta) para ter o seu carrinho. Mais: se você falar para essa turma que está indo ao banco  resolver um assunto, eles vão olhar e, automaticamente, vê-lo como o Fred Flintstones. Esquece. Eles também não conhecem o Fred Flintstones.

O fato é que essa fadiga leva atividades econômicas à obsolescência, diminuindo as margens ao longo do tempo. De forma geral, à medida que o espaço fica cada vez mais apertado, as perspectivas de lucros e de crescimentos caem. Considerando isso, a grande pergunta que todos fazem é: como reagir a esse mal inexorável?

Um bom caminho talvez seja pensar em formas diferentes de fazer o que todo mundo faz, inclusive furando a bolha do marketing. O caso mais clássico, arroz de festa em todo Powerpoint sobre estratégia e inovação é o do Cirque Du Soleil. Vai dizer que você não conhece?

Com o surgimento de várias formas de entretenimento, o negócio circense andava em baixa. As margens estavam mais apertadas do que a calça do Zezé Di Camargo depois das festas de fim de ano; as crianças estavam cada vez mais inebriadas com os jogos eletrônicos, enquanto os ativistas faziam campanha contra o uso de animais nos espetáculos. Um cenário nada animador.

Entretanto, Guy Laliberté, fundador do Cirque Du Soleil, começou a aproximar seus espetáculos de uma experiência similar ao teatro, cujo público já era acostumado a pagar um valor mais alto pelo ingresso. Guy também encontrou uma fonte inesgotável de talentos: passou a recrutar ex-atletas olímpicos – gente disciplinada, obstinada, focada – para integrar seu elenco. Ao contrário de quem contribui com o nosso INSS, ginastas têm uma vida laboral bastante reduzida para competições, mas não para exibições.

Em suma, o circo foi reinventado, na medida em que criou um mercado inexistente, atraindo um público completamente novo. Isso é o que W. Chain Kim e Renée Mauborgne chamam de “A estratégia do oceano azul”. Os autores analisaram vários segmentos e empresas, chegando à conclusão de que, enquanto os “oceanos vermelhos” diminuem as perspectivas de lucros e de crescimento, os oceanos azuis criam novos espaços de mercado em que a concorrência se torna irrelevante. A questão já não é ter a grama mais verde que a do vizinho, a concorrência, e sim inventar outro tipo de solo.

A estratégia do oceano azul ganhou esse nome há quase vinte anos, mas o conceito em si é bem antigo. A Ford poderia ter construído as melhores e mais confortáveis carruagens que já se viu, mas inaugurou um novo segmento com o seu Ford T, mais resistente e eficiente do que as outras tentativas de automóveis da época.

Esse raciocínio vale para todos os segmentos, sem exceção. Por falar em oceano, lembro ter visto Herbert Vianna – ele mesmo, vocalista dos Paralamas do Sucesso – dizer que mesclar influências caribenhas com rock foi como se, palavras dele, “todas as bandas de rock nacional estivessem espremidas em um quartinho, e a gente tivesse descoberto uma porta que dava para um salão enorme e vazio”.

É exatamente deste salão vazio que as empresas estão em busca. Algumas, erroneamente, agarrando-se apenas à tecnologia, como Jack num pedaço de porta do Titanic (para seguir no tema mar). Kim e Renén reforçam que o tal oceano azul não está relacionado à inovação tecnológica, apps, softwares, automação, e sim em reduzir custos na mesma proporção que se consegue gerar valor para os clientes. A forma é com você.

Por fim, acrescento ainda que um aparente problema pode ser a chave para uma bela oportunidade. Imagine que não devia ser nada fácil e barato transportar, alimentar, cuidar e adestrar aquela bicharada toda do circo. De repente, esse problema não só desaparece como a solução traz uma perspectiva muito melhor.

Claro que a palestra é muito mais bonita que a vida real; óbvio que houve vários obstáculos a serem superados tanto no Cirque Du Soleil como em outras empresas que descobriram o chamado oceano azul. No entanto, o que fica para nós é 1) Sim, seu modelo de negócio está em processo de fadiga 2) A mudança para algo mais rentável não vai se dar num passe de mágica. A menos que você também possua um circo e que neste circo more o David Copperfield.

Três perguntas para mexer com o seu juízo:
1) Você procura sempre reduzir custos ao mesmo tempo que oferece mais valor aos seus clientes?
2) Existe uma célula/departamento pensando em novos modelos de negócio dentro do seu
negócio?
3) Com sinceridade: você enxerga a tecnologia como um meio para novos formatos ou um fim em si mesmo?

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