Lula diz ter cobrado explicação de ministro por estrada em fazenda

Juscelino Filho. Foto: Divulgação

Equipe Focus
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu nesta quinta-feira, 16, ter determinado que o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, apresentasse explicações depois de o Estadão revelar que o chefe da pasta usou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que corta fazendas da família, no interior do Maranhão, quando deputado. Dos Estados Unidos, Lula ordenou que o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, transmitisse a Juscelino Filho a cobrança.

“Quando saiu a denúncia do ministro Juscelino, eu liguei para o Padilha, eu estava nos Estados Unidos, e falei: ‘Padilha, eu quero que você converse com Juscelino. Eu quero que você ouça a explicação dele, porque ele tem de se explicar corretamente para os meios de comunicação’. E vai ser assim que vai acontecer com todas as denúncias”, disse, em entrevista à CNN.

Lula citou o caso ao ser questionado sobre critérios intoleráveis para a permanência de membros do governo que vierem a ser denunciados por corrupção e por mau uso de recursos públicos. “Se a pessoa tiver culpa, a pessoa simplesmente sairá do governo”, afirmou.

O presidente condicionou eventual demissão de ministros a “análise interna” de cada caso pela Controladoria-Geral da União (CGU). “Nós vamos ver internamente, através da CGU, para saber se tem procedência a denúncia. Se tiver procedência a denúncia, o ministro será afastado. Se não tiver procedência, segundo a CGU, vamos dizer que não tem procedência”, disse.

Versão

Na época, Padilha disse ao Estadão que nada desabonava a conduta do ministro das Comunicações. Segundo ele, Juscelino disse que a estrada não chega às fazendas.

Como mostrou o jornal, porém, a via de 19 km que será pavimentada passa por dentro de oito imóveis rurais de Juscelino e de pessoas da família dele. Inclusive, passa bem na frente de uma pista de pouso privada construída pelo político maranhense dentro de uma das propriedades.

Estadão também mostrou que Juscelino apresentou dados falsos à Justiça Eleitoral para justificar gastos de R$ 385 mil com voos de helicóptero. A lista de passageiros tinha pessoas sem ligação com a campanha e até uma criança. Questionado sobre esse caso, Padilha encampou a versão de Juscelino, a de que se tratou de erro da empresa de táxi aéreo.

Em outra reportagem, o Estadão revelou que Juscelino abriu o ministério ao sócio oculto de uma empresa que recebeu R$ 2,9 milhões do orçamento secreto para obras em Vitorino Freire, cidade governada atualmente pela irmã dele, Luanna Rezende. Quatro empresas comandadas por amigos e ex-assessoras de Juscelino ganharam R$ 36 milhões em contratos com a prefeitura.

Turismo

Na entrevista à CNN, Lula também minimizou as denúncias contra a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, que fez campanha no Rio de Janeiro ao lado de um miliciano condenado a 22 anos por homicídio.

“Eu, sinceramente, se for levar em conta pessoas que estão em fotografia ao lado de pessoas outras, a gente não vai conversar com ninguém porque eu sou o cara que mais tira fotografia no mundo”, disse.

Na primeira reunião ministerial do governo, em 6 de janeiro, Lula havia prometido ser duro. “Quem fizer errado sabe que tem só um jeito. A pessoa será, da forma mais educada possível, convidada a deixar o governo e, se cometeu algo grave, terá de se colocar diante das investigações e da própria Justiça”.

Juscelino Filho chegou ao governo depois de ser indicado por um consórcio de políticos que incluem o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o deputado e pastor Cezinha Madureira (PSD-SP) e até a deputada Danielle Cunha (União Brasil-RJ), filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PTB-SP).

 

Agência Estado

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