Curvas e lados, por Igor Macedo de Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

No mundo moderno a política está intrinsecamente ligada as atividades econômicas de um país. Quanto mais liberal, maior é a diversificação das atividades e mais aberta para o mundo é a nação. Contudo a política dentro de nações liberais não é algo homogêneo, de modo que se encontra políticos mais à esquerda e outros mais à direita.

Esse artigo não procura julgar se existe um “lado bom” ou “lado ruim” dentro da política. Ao longo da história diversas nações tiveram bons governos de direita e bons governos de esquerda. Achar que existe um lado certo ou errado, bom ou mau, mostra certo desconhecimento sobre o que é a política.

Alguns exemplos podem mostrar essa realidade, como os governos de Margareth Thatcher na Inglaterra, de Ronald Regan nos Estados Unidos ou de Junichiro Koizumi no Japão, que foram marcados como grandes administrações de espectro político à direita. Por outro lado, governos como os de Bill Clinton e Barrack Obrama nos Estados Unidos, António Costa em Portugal e Justin Trudeau no Canadá também se mostraram exitosos mais à esquerda.

Do ponto de vista econômico podemos diferenciar o que efetivamente é um governo de esquerda ou um governo de direita? Ações populistas podem existir em ambos os espectros, políticas monetárias heterodoxas também não são exclusividade de uma ala ou outra.

Gostaria de me ater aqui para fazer uma simplificação das ações econômicas de governos tanto à direita quanto à esquerda, utilizando um conceito muito usado na economia, que são as curvas de demanda e de oferta.

Oferta (em economia) são bens e serviços que os agentes econômicos (empresas, bancos, trabalhadores autônomos, etc) estão dispostos e aptos a fornecer ao mercado ou diretamente a outro agente no mercado. A oferta pode estar representada por moeda (crédito), tempo, matérias-primas, bens duráveis ou qualquer outro objeto escasso ou valioso que possa ser fornecido a um terceiro agente. O que pode ser ofertado no mercado geralmente é bastante abstrato e quase infinito. A oferta é frequentemente plotada graficamente como uma curva crescente, ou seja, quanto mais cresce o preço do bem ou do serviço no mercado, maior será o impulso dos produtores a aumentar a sua produção, aumentando assim seus lucros.

Em economia a demanda é a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos e capazes de comprar a vários preços durante um determinado período de tempo. A relação entre preço e quantidade demandada também é conhecida como curva de demanda, o que se apresenta geralmente como uma relação inversamente proporcional, quanto maior o preço de um bem, menor é a quantidade demanda pelos agentes do mercado e vice versa. As preferências subjacentes à demanda são influenciadas pelo custo, benefício, probabilidades e outras variáveis.

Nesse contexto podemos dizer que governos de esquerda tendem a realizar políticas econômicas que buscam influenciar as curvas de demanda, ou seja, procuram influenciar a capacidade da população a aumentar a quantidade demandada de bens e serviços de uma nação. Incentivos ao consumo como crédito subsidiado para o setor imobiliário, operações de financiamento de bens de capital para empresas, desonerações de impostos sobre o consumo, limites em reajustes de aluguéis, intervenção de estatais em setores econômicos e outros exemplos nesta linha podem ser bem específicos e diferentes tanto no seu modo de implantação quanto no seu público alvo. Todas essas políticas tem o mesmo objetivo de deslocar a curva de demanda para uma área superior, aumentando a quantidade demandada total de bens e serviços de uma economia, procurando assim aumentar o PIB e consequentemente diminuir o nível de desemprego.

Por outro lado políticas mais à direita buscam criar políticas econômicas que influenciem a curva de oferta, ou seja, buscam impactar a capacidade dos ofertantes de bens e serviços a se tornarem mais eficientes, produzindo mais com custos cada vez menores, incentivando a competição entre as empresas. Dentro dessas políticas pode-se destacar as privatizações de estatais ineficientes, a desregulamentações de setores econômicos, a liberalização de mercados, a redução de impostos e a maior integração da economia nacional com outras economias. Nesta visão uma maior competição é capaz incentivar a inovação e a tecnologia para se obter produtos e serviços cada vez mais produtivos, fazendo produtos melhores, mais baratos, porém com maiores margens de lucro. Dentro desse contexto uma maior oferta de bens e serviços cada vez mais diversos aumentam a capacidade de exportação e a renda nacional, tornando no longo prazo a nação mais rica e com menos desemprego.

Talvez a maior diferença entre os dois caminhos seja o tempo. Ações de esquerda procuram ser mais rápidas, porém seus efeitos não são duradouros, pois incorrem em inflação rapidamente. Ações de direita demoram muito até que seus efeitos sejam sentidos, o que incorre em impopularidade política. Talvez seja por isso que governos de centro, que incorrem parcialmente em políticas econômicas de direita e de esquerda tendem a ganharem grande parte de votos nas democracias modernas, pois entendem os benefícios e malefícios das mudanças nas duas curvas.  A política e a economia não são ciências que existem dentro do preto e do branco, elas existem dentro do espectro de vários tons de cinza.

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