
Por Gabriel Amora
O conflito interno do PDT Ceará ganhou mais um intenso capítulo para a história do partido: na tarde de hoje, segunda-feira, 16, o senador Cid Gomes se tornou o novo presidente da legenda no Estado. Minutos depois, a Justiça suspendeu a convocação da reunião que elegeu o senador.
“Ante o exposto, DEFIRO PARCIALMENTE A TUTELA DE URGÊNCIA solicitada na exordial e inaudita altera parte, com base no art. 300, caput do CPC, somente no sentido de suspender os efeitos do edital de convocação de reunião extraordinária do PDT/CE, que marcou eleição da nova executiva Estadual para o dia 16/10/2023 às 15h, ou caso já tenha sido realizada a reunião que se suspenda os efeitos da mesma, até ulterior deliberação deste juízo”, anunciava a juíza Maria de Fátima Bezerra Facundo, da a28° Vara Cível de Fortaleza, no texto. André Figueiredo, que assume novamente a presidência, estava representado por advogado.
O texto, em vista disso, confirma que a convocação da reunião extraordinária “não respeitou os trâmites mínimos necessários para sua realização”. Seriam eles: a convocação da reunião no prazo prévio de 20 dias e com inscrições para registro de chapa até as 18 horas do 5º dia anterior à realização da reunião.
Segundo Cid, no entanto, os prazos citados pela magistrada na decisão se referem à convenção estadual, não à reunião do diretório. “E é isso que vamos mostrar em juízo. E tenho certeza que o que aconteceu aqui hoje será respeitado pela Justiça”, disparou.
“Induziram-na ao erro. Citaram artigos da convenção, e isso aqui não era uma convenção. O que houve aqui hoje foi uma reunião do diretório e a convocação foi feita atendendo todos os dispositivos estatutários”, continuou.
A escolha de vitória de Cid, antes do vai e vem, contou com 48 votos favoráveis e uma abstenção, de Thiago Campelo, prefeito de Aracoiaba, no caso. “Ele me disse que ia tomar essa atitude. Apesar de não tomar nenhum lado, me garantiu que só quer a paz no PDT”, adiantou Cid sobre abstenção do gestor.

Cid vs André
No momento, Cid e André simbolizam duas alas divergentes dentro da sigla, que respira essa crise há um ano, quando os pedetistas optaram pelo nome de Roberto Cláudio para disputar o governo do Estado. Segundo Cid, muitos vivem com essa espinha de ódio atravessada na garganta. “Não custa nada assumir a culpa e superar. Não custa. E tem muitos do PDT com esse rancor”, explicou. Durante essa mesma fala, ignorou a pergunta do Focus.Jor sobre um desses nomes ser o de seu irmão, Ciro Gomes.
Ciro, na ocasião, disputava a presidência. Quando os pedetistas optaram por RC, Cid não fez campanha para seu partido no Estado, dado que queria manter a aliança com os petistas que apoiavam Izolda Cela, a governadora pedetista na época.
O PT rompeu com o PDT e lançou Elmano de Freitas, que saiu vitorioso no primeiro turno. “2022 ainda não foi superado por alguns dentro desse partido”, continuou em clara referência ao próprio RC e André, opositores da gestão petista, e Ciro, que chamou Cid e Camilo Santana, liderança no Partido dos Trabalhadores, de traidores.
A deputada Lia Gomes (PDT) também compareceu na reunião. Questionada sobre uma eventual apaziguada entre os irmãos, começou a rir enquanto olhava o celular. “A gente conversa, né…. me dou bem com os dois. Cumprindo o meu papel de irmã”, disse. Lia apoiou Cid na tarde de hoje, criando, consequentemente, uma possível desavença com Ciro, que apoia fielmente André, RC e o prefeito Sarto, líderes da oposição ao PT, partido o qual Cid busca reaproximação para em 2024 conseguir o maior número de prefeitos.
Durante a tarde, também havia sido decidido que o vice-presidente seria Cirilo Pimenta (prefeito de Quixeramobim), enquanto que o 2º vice-presidente seria Marcos Sobreira (deputado estadual). Já o cargo de Secretário-geral ficaria com Salmito Filho (deputado estadual licenciado) e o Secretário Adjunto seria Júlio Brizzi (vereador de Fortaleza). Tesoureiro, Robério Monteiro (deputado federal licenciado) e tesoureiro adjunto, Mauro Filho (deputado federal), este último, inclusive, estava inquieto. Andando de um lado para o outro e suando frio.
Outro que estava visivelmente “aperreado” era o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, no famoso “entrou mudo e saiu calado”. Na saída, foi correndo para o carro, ignorando as perguntas dos jornalistas. Curioso que sua reação foi a mesma quando não optaram por Izolda no último ano. Aquela Nunes Valente já foi cenário de muitas fugas de Evandro.
Em relação a Evandro, que continua no PDT, apesar de já ter solicitado sua saída, Cid confirmou que ele “claramente quer ser candidato” ao cargo de prefeito em 2024. “É uma decisão dele”, apontou o senador, sem deixar claro se celebra ou lamenta. Evandro analisa, no momento, qual partido deve seguir. PT e PSB, que conta com a presidência de Eudoro Santana, são os dois que o convidaram.

Decisão da Juíza
Diferentemente de Evandro, Cid, após reunião, dedicou alguns minutos para conversar com os jornalistas. Estava ansioso. Fumava dentro da sede, inclusive, com ar-condicionado ligado, e na calçada, em frente ao prédio. Sua ansiedade/euforia se manifestava mesmo assim. Outro sintoma que provava sua inquietação: fome. Em determinado momento, foi visto uma pessoa entrando com um pacote de comida delivery na sala da reunião. O porteiro disse: “Acho que foi para o chefe”.
“Estou com a consciência tranquila de que o que aconteceu aqui foi absolutamente legal regular, foi atendendo a todos os princípios estatutários. O partido votou hoje”, disse Cid após a votação.
“Isso é o que pode se chamar também de litigância de má-fé. Essas pessoas podem ser processadas por litigância. Eles se aproveitaram de uma urgência se aproveitar da boa fé de uma magistrado e citaram artigos que tratam da convenção e não dá de uma reunião extraordinária do diretório que é o que nós fizemos aqui hoje”, detalhou.
Antes disso tudo, já tinha atacado André. “André inventou desculpas não existentes, querendo imputar a mim a responsabilidade de quebra de acordo, quando foi dele”, disse ao referenciar o rompimento do trato que havia feito em relação ao Cid atuar no comando da legenda até dezembro. Segundo André, Cid não cumpriu com o combinado, procurando, sem comunicá-lo, o apoio de Elmano e sem trabalhar para a reeleição de Sarto.
“Ele achou pouco o que já tinha feito e, a meu juízo, de forma fraudulenta, entraram no sistema de gerenciamento de informações partidárias e inativar todos os diretórios, foi uma ofensa não só a mim, mas para eles mesmos”, disse.
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