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A sucessão de fatos que implode o PDT no Ceará

Foto: Divulgação

Já estamos em março de 2023 e lideranças do PDT Ceará seguem em conflito. Na última quinta-feira, 2, por exemplo, a legenda cancelou a reunião que serviria de palco para ajustar as vice-lideranças do partido na Assembleia Legislativa.

No entanto, a direção, que conta com o comando do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, resolveu se encontrar para discutir outras questões e confusões internas, esquecendo as outras pautas.

É importante pontuar que, no momento, na esfera estadual, há uma divisão agressiva entre partidários de apoio ao governador Elmano de Freitas (PT) e o grupo do ex-prefeito.

Além disso, o senador Cid Gomes recentemente comentou sobre o trabalho do atual gestor da capital cearense, José Sarto, que, para o pedetista, atua apenas no bairro Aldeota. Aliados se indignaram e defenderam o prefeito.

Conflitos vêm e vão, mas como este, que vem sobrevivendo até hoje, começou? Confira a linha do tempo. 

Foto: Divulgação

Izolda Cela desconsiderada

Depois de sete anos e três meses, Camilo Santana (PT) se afastou do cargo, em abril de 2022, para concorrer ao Senado nas eleições de outubro. O cearense foi eleito para o primeiro mandato em 2014 e, em 2018, conquistou a reeleição, muito por consequência da aliança formada pelo PT e PDT.

Durante esses anos, Camilo representou a lealdade do PT aos irmãos Cid e Ciro Gomes. Logo, após deixar o cargo, a vice Izolda Cela, que era do PDT, assumiu com discurso de continuidade.

A ideia inicial era a que Izolda concorresse ao cargo de governadora, uma vez que já atuava nele. Entretanto, o PDT colocou o nome do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, na mesa, já iniciando algumas dúvidas entre os petistas, liderados por Camilo, e por alguns pedetistas, que eram a favor do nome da então governadora.

Roberto Cláudio escolhido 

Depois de algumas semanas de discussões, em julho, o ex-prefeito RC foi escolhido como o pré-candidato do PDT ao governo do Estado por maioria de votos dos integrantes. A votação foi realizada na sede do partido em Fortaleza. Izolda estava presente.

Foto: Divulgação

O resultado final foi de 55 votos a favor do ex-prefeito contra 29. O senador Cid Gomes e o pré-candidato a presidente da República, na época, Ciro Gomes não participaram da reunião. O último, que seguia fortemente em campanha de ataque ao Lula (PT), apoiou a escolha de RC. 

PT e PDT rompem 

A escolha, consequentemente, causou uma ruptura na aliança entre PT e PDT no Estado, que já durava 16 anos. Camilo Santana, poucos dias depois, anunciou que Elmano de Freitas era o candidato do seu partido ao governo do Ceará nas eleições de outubro.

Figuras do PDT apoiam Elmano

Cícero Figueiredo, prefeito de Milagres, anunciou que iria apoiar todas as três candidaturas do PT: Elmano de Freitas (PT) ao Governo do Ceará, o ex-governador Camilo Santana (PT) para o Senado, e o então ex-presidente Lula (PT) para a presidência. Figueiredo, contudo, não foi o único.

Gildecarlos Pinheiro (Deputado Irapuan Pinheiro), Thiago Campelo (Aracoiaba), Marcondes Ferraz (Saboeiro), Bismarck Barros (Piquet carneiro), Tertuliano Martins (Tarrafas) e Carlos Áquila (Moraújo) foram os primeiros. Além deles, Luan Dantas (Jaguaribana), Nezinho Farias (Horizonte), Francisco de Castro (Chorozinho), Saul Maciel (São Benedito) e Guilherme Saraiva (Barbalha) completaram o time. Oito decidiram se desfiliar do partido.

A governadora do Ceará, Izolda Cela, que já estava desfiliada, também declarou apoio aos petistas.

Cid desaparece 

O senador Cid Gomes (PDT), durante a campanha eleitoral de 2022, decidiu se ausentar da disputa interna entre o seu partido e o PT, ficando, inclusive, recluso em suas redes sociais. 

Os irmãos Ivo e Cid, apesar de estarem no partido de Érika Amorim, que atuava como candidata ao Senado na época, apoiaram Camilo. Sobre o nome do governo estadual, no entanto, eles não se manifestaram.

“Pra governador, eu vou botar só o 1 e o outro número a pessoa escolhe. Não vou me envolver no primeiro turno. Porque eu quero ajudar a reconstruir uma aliança no segundo turno”, pontuou o ex-governador Cid na época. O ex-prefeito Roberto Cláudio tinha o número 12, enquanto que Elmano ficou com o 13. 

Ivo provoca RC

O prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), afirmou que o apoio do irmão Cid à candidatura de RC ao governo do Ceará “simplesmente não existia”. 

“Engraçado, pra não dizer outra coisa, o meu partido. Ignora e alija Cid do processo de escolha do candidato. Agora quer enganar os entrevistados de pesquisa exigindo na justiça a menção de um apoio do mesmo Cid a RC, apoio esse que simplesmente não existe”, escreveu o prefeito em comentário feito a partir de um print de matéria do Focus.

Ciro ‘traído’

Mais pra frente, Ciro Gomes (PDT) disse que foi traído por lideranças cearenses que “ajudou a formar”. “Recebi uma facada poderosa nas costas. A traição é a cara do momento no Ceará. Resolvi não ir ao meu Estado pela primeira vez. Que o cearense diga lá o que quer fazer de mim”, disse ao site O Antagonista.

Foto: Divulgação

Adversários políticos de Ciro duvidaram, no entanto, que existisse um rompimento na família. O ex-senador Eunício Oliveira (MDB), por exemplo, avaliou o movimento como “jogo de cena”.

“É jogo de cena. Eles não brigam entre eles, não. Eles querem uma boquinha porque perderam o Brasil. O Ciro destruiu tudo, ninguém pode ser ministro de um e nem de outro”, argumentou ao Estadão. “No Brasil e no Ceará, Ciro morreu. O candidato dele não vai nem para o segundo turno. Ele perde para o Bolsonaro feio no Ceará, infelizmente. Então, vai tentar uma boquinha no governo do Elmano via Cid e via Camilo”, provocou.

RC acusa governo de compra de prefeitos

O pedetista RC, durante a campanha, citou supostos convênios feitos “de forma irregular” pelo governo do Estado. Segundo o ex-prefeito, os repasses estariam sendo aplicados “para comprar apoio de prefeitos”, alguns do PDT, inclusive.

Em ação ajuizada pelo PDT na Justiça Eleitoral, o partido acusou Izolda e os integrantes da chapa do PT de abuso de poder econômico e político. Izolda apontou que as acusações de RC são “absurdas”, “covardes” e “irresponsáveis”.

Vitória de Elmano

Quando Elmano venceu, Camilo apontou que foi a vitória da “humildade”. Com 93% das urnas apuradas, o petista foi eleito como governador do Ceará. Elmano disputava com Capitão Wagner (UB), que acabou ficando em segundo com 32,25%, e RC, que permaneceu em terceiro com 14,08%.

RC oposição

Já em 2023, Elmano apontou estar disposto a conversar com os pedetistas, no intuito de iniciar uma nova aliança durante o seu governo. Alguns pedetistas se mostraram dispostos, como André Figueiredo, enquanto que outros não, como RC, derrotado nas eleições.

No início do ano, RC apontou a falta de ação do governo no caso do fechamento das operações fabris da Guararapes Confecções na capital com a demissão de cerca de 2 mil trabalhadores.

“Acompanhei com grande tristeza e espanto a decisão da empresa Gurarapes de demitir, de forma drástica e descomprometida com os trabalhadores e com o próprio Estado do Ceará, 2.000 pessoas, agora em janeiro, nesse momento de crise, incertezas e grande necessidade. Para agravar, surgem agora denúncias que nem mesmo os direitos e os acordos estabelecidos com os trabalhadores estão sendo cumpridos”, lamentou o ex-gestor em postagem nas redes sociais. A partir deste ponto, RC confirmou que atuaria como oposição.

“PDT deve virar a página”

O senador Cid Gomes (PDT) enfatizou a ideia de que a sua sigla deve seguir integrando a base do governo Elmano na Assembleia Legislativa do Ceará. A declaração veio em entrevista ao jornal Diário do Nordeste. 

Segundo o pedetista, a legenda tem que “virar a página”. Ele, inclusive, explicou que dos 13 deputados estaduais do PDT, apenas 3 querem que a sigla se organize na oposição. São eles: Queiroz Filho, Antônio Henrique e Cláudio Pinho. Além destes, também há a liderança do ex-prefeito RC, que segue articulando críticas contra Elmano. 

Foto: Divulgação

Cid critica gestão de Sarto

O senador Cid Gomes (PDT), em entrevista ao podcast As Cunhãs, apontou que a gestão do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), “não pode ficar só no bairro Aldeota”.  Não satisfeito, Cid também disse que dialogou com o pedetista para oferecer sugestões na administração, inclusive como melhorar o transito na avenida José Bastos.

Cid, inconformado, continuou: “Ele tem que trabalhar e parecer que está trabalhando. Ele tem que ser flagrado cinco horas da manhã no cruzamento da José Bastos”, disse o cearense.

Aliados pró-Sarto se manifestam

O vereador Lúcio Bruno (PDT) aproveitou a recente declaração do senador e defendeu o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT). Lúcio disse não ter entendido a fala do aliado pedetista e comentou que a capital cearense, com a gestão do ex-prefeito, RC, e de Sarto, se transformou em uma grande Aldeota. 

“A gente não entendeu a fala do senador Cid Gomes quando ele diz que o investimento é só na Aldeota. Porque Fortaleza se tornou uma grande Aldeota. Ele esqueceu de dizer isso, que em Fortaleza não existe mais a periferia e não existe mais a Aldeota. Fortaleza é só Aldeota”, argumentou na tribuna da Câmara Municipal. 

O vereador Bruno Mesquita (Pros) foi outro que também criticou o senador Cid. Na declaração, Mesquita disse: “Acho que essa investida do senador Cid talvez seja para ele entrar no bloco do camarote do Big Brother”. “Não pode um homem da envergadura de um dos melhores governadores do Estado estar fazendo um papel desse”, provocou.

Convite para o MDB

O presidente do MDB Ceará, o deputado federal Eunício Oliveira (MDB), convidou o senador Cid e o prefeito de Sobral, Ivo, irmãos do ex-governador Ciro Gomes, para o seu partido. Um exemplo claro de crise no partido, quando uma de suas lideranças é convocada para atuar em outra legenda. 

Eunício, que tem problemas políticos e pessoais com Ciro, disse que Cid seria muito bem-vindo em sua sigla. As informações são do jornal Diário do Nordeste. “Ele agradeceu, mas disse que vai defender os pontos dele dentro do PDT e que não vai mudar de partido”, explicou o emedebista ao jornal. 

Sarto críticas “recebe de braços abertos”

Sarto, então, se manifestou em relação aos comentários críticos do senador Cid. Na ocasião, o gestor disse que a situação não criou nenhum problema dentro da legenda. 

Foto: Divulgação

Em inauguração de escola, o pedetista enfatizou que tem trabalhado muito e que está acostumado a ouvir críticas negativas. “Para mim, quando a crítica vem acompanhada com uma boa intenção de oferecer sugestão, eu as recebo de braços abertos”, contou.

RC se manifesta

RC apontou, durante reunião com as lideranças do partido, ao lado de Sarto, que “não é alimentando esse tipo de futrica publicamente que a gente vai poder chegar a algum tipo de construção mais prática, favorável e positiva para a população cearense”.

Na reunião, a cúpula pedetista na capital defendeu, a partir disso, a recriação do Diretório Municipal do partido. Sugerida pelo próprio RC, que enfatizou a recriação como um modo de dar “mais força” ao comando local da sigla, o plano precisa do aval do presidente estadual, André Figueiredo.

Figuras do PDT pró-Sarto

Diversos militantes, no último encontro do partido, destacaram também a importância de uma defesa mais dura da gestão de Sarto, inclusive com falas na Câmara Municipal de Fortaleza e na Assembleia. Logo, os pedetistas avaliaram a realização de reuniões semanais para aumentar a defesa da administração, assim como a criação de grupos para melhorar a divulgação de ações da prefeitura. As informações são do jornal O Povo.

O mar turbulento do PDT dá indícios que não irá se acalmar tão cedo.

 

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